Este talvez seja um dos temas
mais comentados nas mídias por psicólogos, relacionado ao desenvolvimento
infantil. Isso porque parece que há uma grande dificuldade dos pais dessa
geração na árdua tarefa de impor limites aos seus filhos.
O senso comum, por sua vez, é
cheio de receitas mágicas e de achismos sustentados por crendices populares
reforçadas por séculos de uma cultura educacional pobremente estimulada, o que
leva ao estabelecimento de diversos mitos e inverdades sobre a criação dos filhos.
O problema é que os pais parecem
cada dia menos preparados para lidar com tarefas que, há algumas gerações eram
muito simples. Vários podem ser os fatores para isso, como a reorientação do
sentido e do significado da pater/maternidade para as famílias contemporâneas,
sendo que alguns autores já discutem tais propostas teórica e historicamente
(Mansur, 2003; Moura & Araújo, 2004).
Para muitos psicólogos do
desenvolvimento humano, a questão da imposição de limites psicológicos para a
ação da criança era um assunto de extrema importância, pois estava diretamente
ligada ao aspecto moral civilizatório.
O pai da psicanálise e, sem
dúvida, um dos maiores teóricos da psicologia, Freud, discutiu em seu texto “O
Ego e o Id” (Freud, 1923/2009) o estabelecimento de uma estrutura psíquica
chama “Superego” que era a responsável pela internalização das regras sociais,
ensinadas pela família e posteriormente, pela sociedade como um todo. Todavia,
esta estrutura só se estabelecia a partir do momento em que fosse resolvido o
que o autor chamou de Complexo de Castração (embora o complexo de castração seja
algo que se atualize constantemente, há uma fase na vida, onde ele se resolve
em conjunto com o complexo de Édipo, fundando o superego) (Fenichel, 1981).
O que o Complexo de Castração
evidencia é a necessidade da imposição dos limites através dos “nãos” colocados
como barreiras pelos pais entre a criança e o objeto de seu desejo. Oras, mas a
grande questão é que não se trata de um processo tão simples assim: Geralmente os
pais possuem muita dificuldade de dizer não para os seus filhos pela
incapacidade que os mesmos possuem de lidar com suas próprias frustrações
infantis, projetando sobre os mesmos as suas angústias não tratadas. Com isso,
chegou-se ao cúmulo de, no senso comum, pregar-se que o “não” era prejudicial à
educação dos filhos.
Oras, o “não” não é prejudicial
como é necessário para o desenvolvimento de uma criança psicologicamente
saudável! Uma criança precisa entender, desde cedo que, o mundo não é a
extensão de seu corpo, e que o mesmo não se move conforme a sua vontade, e isso
só é feito através destes “cortes psicológicos” que são estabelecidos através
do “não”. Esta dinâmica de estabelecer sucessivos “nãos” é muito importante
para que a criança aprenda desde cedo a lidar com outro fenômeno igualmente
natural e comum à todos os mortais, o narcisismo (mas isso é outra história).
O ponto é que, o saudável
estabelecimento de uma relação que compreende os limites através de “nãos” é
necessário para criação de uma pessoa cada vez mais consciente dos seus
limites, dos do próximo e, assim ter um futuro adulto com cada vez maior noção
de civilidade.
Referências
Fenichel, O. (1981). A teoria psicanalítica das neuroses. São
Paulo: Atheneu.
Freud, S. S. (2009). O Ego e o
Id. Em, Edição Standart das Obras
Completas de Sigmund Freud, Tomo XIX. São Paulo: Imago.
Mansur, L. H. B. (2003). Sem filhos: a mulher singular no plural.
São Paulo: Casa do Psicólogo.
Moura, S. M. S. R., & Araújo,
M. F. (2004). A maternidade na história e a história dos cuidados maternos. Psicologia, ciência e profissão, 24(1),
44-55.
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil), com graduação sanduíche e estágio em terapia
sistêmico-relacional de casais e famílias pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento pela Brown University (Estados Unidos) e pela
Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de
Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede
Goiana de Psicologia.
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