segunda-feira, 22 de junho de 2015

Você sabe o que significa rotular?



De acordo com o dicionário Aurélio, a palavra rotular significa: colocar rótulo ou etiqueta em; Qualificar de modo simplista; Classificar, reputar. No texto passado falamos sobre o diagnóstico do TDAH e sobre a importância de não rotular crianças ou adolescentes que possuem alguns dos sintomas do transtorno. Porém, o conceito de rotulação se encaixa em praticamente todas as situações do nosso dia a dia.

Comumente, a sociedade em que vivemos se organizou de forma que, a maneira como a pessoa se porta ou o que ela faz se torna o que ela é. Por exemplo, na maioria das vezes as crianças e adolescentes são conhecidas predominantemente por suas características: inteligente, feio, bonito, gordinho, custoso, comportado, magrinho, baixinho, entre outras.
                              
O que essa rotulação pode afetar na vida das crianças e adolescentes?

Esses rótulos colocados em crianças e adolescentes provavelmente geram inibições de tantos outros comportamentos que também poderiam ser emitidos. Quando chamamos uma criança de custosa ou até mesmo de inteligente o tempo todo, nós estamos fazendo com que essas características, sendo positivas ou negativas se tornem predominantes. Quando isso acontece, à tendência a esse comportamento ocorrer é muito maior do que outra característica que também existe, mas não é lembrada por ninguém.

Muitas vezes os pais não compreendem que eles mesmos reforçam os comportamentos que são considerados desajustados aos filhos. Por exemplo, uma criança que é custosa em casa, é muito comum ouvir das mães, “fulano é muito custoso, não me ajuda em nada, me responde o tempo todo”. Na maioria das vezes, os comentários são feitos com a criança por perto, ou seja, elas percebem que tem atenção dos pais ou responsáveis somente quando emitem comportamentos esses comportamentos considerados ruins.                                        

Por isso é importante que os pais, responsáveis, professores, educadores e todas as outras pessoas que fazem parte do convívio social da criança, reconheçam todos os comportamentos que são emitidos para não correr o risco de rotular apenas algumas características da criança.
As crianças são capazes de obter aprendizado imitativo, por isso é muito importante que os pais fiquem atentos para não rotularem pessoas perto dos seus filhos. Pois, cada vez mais tem aumentado a incidência de bullying entre as crianças na escola, enfatizando o reflexo de como a sociedade como um todo vem tratando os seres humanos.

Portanto, é de grande relevância que os pais ou responsáveis tomem a consciência de que as crianças podem tornar grandes exemplos do que tem visto em casa ou em seu meio de convívio. Por isso, os mesmos devem mostrar os defeitos e principalmente ressaltar as qualidades das pessoas, sempre tendo o cuidado em focar no ser humano como um todo e não apenas nas partes.
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Imagem: Google Imagens

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Sobre as autoras:
Manuella Garcia Resende de Deus
Psicóloga (CRP 09/9498) pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), com ênfase em Psicologia Escolar. Atuou como estagiária no CEJA-Ensino de Jovens e Adultos e no IFG-Instituto Federal de Goiânia, trabalhando com psicologia escolar e educacional. Atualmente é Psicóloga Clínica do Programa Desenvolver e cursa especialização em Psicodrama Psicoterápico





Marina Magalhães David

Psicóloga (CRP 09/9789) pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), com ênfase na formação em psicologia escolar. Possui formação em “ferramentas para pensar” pelo Programa Aprender a Pensar (uma instituição da PUC Goiás especializada em infância, adolescência, juventude e família). Cursa especialização em Psicologia Clínica pela Sociedade Goiana de Psicodrama (SOGEP). Atualmente é psicóloga infantil pelo Programa Desenvolver e Conselheira da Rede Goiana de Psicologia.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Quanto devo cobrar por uma sessão de psicoterapia?



Essa pergunta nos foi enviada por uma de nossas amigas pelo Facebook, com uma dúvida sobre “quanto devo cobrar por uma sessão de psicoterapia individual?”

Esta é uma excelente pergunta! E o digo porque, via de regras, não somos ensinados na graduação sobre quais são os valores que devem/podem ser cobrados em nossa atuação profissional em diferentes áreas, o que faz com que pisemos em um terreno de incertezas e indefinições.

Em primeiro lugar, há que se esclarecer que, nossas universidades são muito falhas e carentes neste papel formativo no que diz respeito ao psicólogo enquanto profissional NO MERCADO DE TRABALHO, ao passo que, cabe a este mesmo em vários momentos, se aventurar para descobrir. Mas isso quer dizer que não há um valor médio ou fixo pelo qual devo cobrar meus serviços? Não! Existe sim um material que é utilizado como GUIA para que psicólogos possam se basear no momento de estabelecer um preço pelos seus serviços.

A Federação Nacional dos Psicólogos (FENAPSI), entidade maior de representação sindical dos psicólogos do Brasil, em conjunto com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), órgão regulamentador da profissão, elaboram uma pesquisa, de tempos em tempos, com o objetivo de estimar qual o valor médio cobrado por psicólogos no Brasil por seus serviços. A tabela em vigência, datando do ano de 2013, está em processo de substituição por uma nova (que ainda não foi publicada), mas há que se deixar bem claro que ela representa somente um guia, e não uma obrigação, sendo que o valor dos serviços deve ser acertado entre cliente e profissional. A tabela serve para que o psicólogo tenha referência sobre os valores praticados no país.

Clique na imagem para ampliar, ou siga o link no final do texto


Conforme se pode ver na imagem, existem três margens de valores na tabela, como se a mesma fosse direcionada para diferentes públicos (Suponhamos, a grosso modo, que seja referente a CLASSE A, B e C), precisando um valor limite inferior, um valor limite médio e um valor limite superior: uma sessão de psicoterapia individual, por exemplo, tem como limite inferior o valor de R$ 81,62; limite médio de R$ 118,18; e limite superior de R$ 139,93. Lembrando que estes valores são baseados em uma média nacional extraída através de pesquisa com a categoria profissional, e que não estabelece nem piso e nem teto para a cobrança dos serviços, já que, como já dito, os valores devem ser cobrados conforme contrato realizado pelo profissional e cliente.

Apesar de a tabela ter uma utilidade muito importante para a vida profissional dos psicólogos, ela apresenta uma pequena questão que deve ser observada: ela deve ser aplicada à vida profissional de cada um conforme a demanda e as condições socioeconômicas da população da comunidade onde o psicólogo atua. A tabela é feita respondendo à uma média matemática nacional, mas isso não leva em consideração o fato de que um psicólogo clínico na cidade de São Paulo ou Rio de Janeiro (grandes centros urbanos), ganhem mais do que um psicólogo clínico na cidade de Itapuranga – GO, em média. Ou seja, o psicólogo deve saber usar a seu favor certo nível de pesquisa de mercado, entendendo qual o potencial socioeconômico da população ao qual presta serviços, afinal um trabalhador assalariado, via de regras, tem menor condição financeira do que um empresário, logo não é justo que ambos paguem o mesmo valor, nem que um fique privado de serviços psicológicos pela sua situação financeira, ou mesmo entender que existem determinadas cidades no país em que o poder aquisitivo é maior que as outras e, consequentemente o custo de vida também.

Obviamente, há profissionais de todos os níveis de experiência no mercado de trabalho, e psicólogos que, em Goiânia por exemplos, cobrem R$ 100,00 a sessão, e há psicólogos que cobram R$ 450,00, mas a diferença entre um e outro, geralmente se dá porque o segundo tem uma excelente formação (um doutorado, várias especializações) ou vários anos de experiência no mercado, com uma sólida clientela. Enfim, o que vale, apesar de ter um guia, é o bom senso, sabendo que tempo, formação, experiência e habilidades contam muito para determinar o valor de um serviço.
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Link para a tabela: Site do CFP

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Imagem: Extraída do Google Imagens

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Sobre o autor
Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), com periódo sanduíche e formação em terapia Sistêmico Relacional de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profisisonal pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Presidente da Rede Goiana de Psicologia.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Porque não sou escutado: A arte de estar errado mesmo estando certo



Alguma vez na vida você estava coberto de razão em relação a algum conteúdo em uma reunião, mas as pessoas pouco “deram bola” para o que você falava e pagaram para ver o erro acontecer? Dentre as alternativas possíveis, além de não ter conseguido expor seu pensamento de uma maneira lógica e racionalmente ordenada, você pode ter sido ineficiente na maneira de passar o conteúdo, ou ter falhado na compreensão de como funcionam alguns dos elementos da comunicação. Como assim? Explicarei nas linhas que se seguem.

Para seguirmos, é importante lembrar o básico da teoria da comunicação: o processo de comunicação ocorre com três elementos – um emissor (a pessoa que fala), uma mensagem, e um receptor (a pessoa que escuta), ao passo que devemos analisar algumas questões sobre cada um destes elementos:

O emissor é suficientemente eficiente na missão de gerar a mensagem?

A primeira maior dificuldade é relacionada às capacidades do emissor de gerar e transmitir a mensagem para o receptor, e dentro disso pode-se elencar diversos fatores: O emissor possui competência técnica ou inteligência suficiente para repassar um conteúdo adequado às reais necessidades do receptor? O emissor sabe utilizar corretamente a linguagem para alcançar o objetivo pretendido pela mensagem (escreve bem, de maneira clara, concisa e coerente)?

Ou seja, o primeiro elemento que deve ser verificado é a capacidade do emissor de gerar e transmitir a mensagem, incluindo as suas capacidades cognitivas, afetivas e volitivas. PERGUNTO: Se você fosse escolhido agora para substituir o Sílvio Santos em seu programa no próximo domingo você seria capaz? Ainda que fosse um grande orador, PROVAVELMENTE NÃO, porque o programa está dotado de uma identidade que só pode ser assumida pelo autor da mensagem. Ainda que você consiga “chegar muito perto” de ser um Sílvio Santos, ou que tenha um excelente carisma, nunca será ele, pode ser pior, ou melhor, mas nunca igual, porque existe um elemento psicológico chamado “Singularidade” no processo de criação e transmissão de mensagem, e este depende do emissor.

A mensagem é suficientemente clara ou boa?

Você pode até estar muito bem preparado, ter um talento incrível para a oratória, mas isso de nada adianta se você não tiver uma mensagem bem feita. Geralmente boas mensagens partem de ideias suficientemente claras, logo, se sua mensagem não estiver bem resolvida, sugiro que afine as suas ideias. De nada adianta ser um showman, um grande orador, e ter uma péssima mensagem: boas mensagens, na verdade, costumam falar por si próprias, mas a sensibilidade de quem as evidencia maximiza o seu potencial. Por isso, se muitas vezes você parecer não estar convencendo as pessoas, verifique se a sua mensagem está suficientemente clara. Mas ter uma mensagem clara não é suficiente para convencer as pessoas, ela deve ser BOA, no sentido de demonstrar uma grande adesão com a realidade.

Mas como saber destas coisas? Faça o exercício da empatia – coloque-se no lugar de quem escuta (uma boa técnica para isso é repetir a mensagem sozinho em voz alta, ou falar na frente do espelho). Outra coisa importante para saber se uma mensagem é boa ou clara o suficiente, tente antecipar as perguntas e questionamentos que os outros farão para você a respeito da mesma (tente identificar pontos críticos da mensagem, saná-los ou minimizá-los) e veja se você é capaz de respondê-los sozinho.

O receptor está preparado para receber a mensagem?

E aqui entra em cena o outro lado da história, o daquele que escuta a mensagem. Ora, mas a escuta não é um papel passivo, mas sim um processo ativo de recepção e transformação da mensagem em sensações. Neste sentido note se a pessoa da qual a mensagem a ser dirigida está suficientemente receptiva para a mesma: isso é muito importante, pois muitas pessoas podem até ter um bom conteúdo, ou uma boa intenção, mas determinados lugares, situações ou momentos podem não ser os mais adequados (quem gosta de receber um “religioso” em sua porta de casa em um domingo às 7 horas da manhã perguntando se você “conhece a palavra de nosso deus”, por melhor que seja a intenção de tal pessoa?). Outra tendência negativa (na maioria das vezes expressada por psicólogos iniciantes ou de estudantes de psicologia) é a de tentar ser “terapeuta quando não solicitado”... Oras, muitas vezes a pessoa não quer a sua opinião, não quer seu conselho, sua observação ou o que quer que seja, ela só quer desabafar, ser escutada ou confirmada, e muitas vezes você pode até ter razão em relação a um conteúdo, mas ela de nada valerá se não alcançar a outra pessoa. Por isso, às vezes, é melhor esperar para que se crie um clima propício à mensagem, do que tentar colocá-la em qualquer situação e à força: ela pode se quebrar.

Decida-se

Por penúltimo, escolha qual o estilo de comunicação que você deseja, pois há uma diferença conceitual e substancial entre um discurso e um diálogo. Um discurso envolve uma parte falante e uma parte ouvinte, e um diálogo envolve duas partes falantes e ouvintes. Um discurso pode ser mais rápido e ter um maior alcance, mas um diálogo implica em um maior comprometimento dos sujeitos e pode ser mais eficaz na tarefa de fixar conteúdos. E nunca devemos nos esquecer de que dois monólogos não fazem um diálogo, por melhores que sejam!  Isso porque, em um diálogo há que se ter a postura aberta e honesta da escuta enquanto processo ativo (a busca pela síntese das percepções da mensagem) e não somente aquela escuta de político pedinte de voto (que finge que te ouve, mas em sua cabeça só está pensando em uma maneira de te dar uma resposta politicamente correta para esquivar-se dos seus pedidos).

Uma dica infalível...

... é nunca esquecer-se que, por mais adequada e boa que esteja a sua ideia, toda mensagem é composta por CONTEÚDO e FORMA, sendo que não adianta nada privilegiar o primeiro e esquecer-se da segunda. Este princípio é tão poderoso que pode representar diferença entre ser rejeitado no primeiro minuto de sua fala ou ser aceito. Duas pessoas podem falar a mesma mensagem e receber diferentes respostas (aceitação ou rejeição) pela simples forma como expuseram o conteúdo. Mas como isso é possível? É pelo fato de que uma mensagem não é recebida simplesmente com a “cabeça” (com o sistema cognitivo), mas também com o “coração” (com o sistema afetivo). A forma como uma pessoa fala uma mensagem pode determinar se a pessoa ficará aberta/com vontade ou não (sistema volitivo) para receber e compreender efetivamente os sentidos da mesma.

Por isso, observando-se tais questões, você pode maximizar o potencial de sua comunicação, ou no mínimo, ser uma pessoa a menos na arte de estar errado mesmo estando certo.
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Imagem: Google Imagens

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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (Brasil), com formação sanduíche pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Presidente da Rede Goiana de Psicologia.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Quais sãos as disciplinas essenciais do pensamento psicológico?



Ao entrar em uma universidade de Psicologia provavelmente o estudante se surpreenderá com a grande quantidade de matérias, dos mais variados tipos, a serem cursadas. Normal! Isso se deve à própria extensão de nossa ciências, sua pluralidade e dispersão. Durante os cinco anos de formação na graduação, o estudante terá, basicamente, dois tipos de formação: uma de base e uma mais específica.

A formação de base é aquela responsável por fornecer os princípios básicos da psicologia para que o estudante possa aplicá-la aos diferentes campos do conhecimento ou áreas de atuação do psicólogo, ou seja, é o “grosso” da formação. Posteriormente, o estudante terá contato com áreas aplicadas do conhecimento psicológico, onde aprenderá como aplicar o conhecimento das áreas básicas de forma prática. Por exemplo, é comum que nos dois primeiros anos o estudantes estudo Psicologia do Desenvolvimento Humano, e que nos anos seguintes aprenda a aplicar tal conhecimento em campos específicos, como a clínica, a psicopatologia, psicologia organizacional, etc.

Neste sentido, existem alguns tipos de disciplinas que podem ser consideradas básicas para a formação do psicólogo, motivo pelo qual passo a apresentar algumas das mais comuns encontradas nos cursos de graduação do Brasil:

Psicologia do Desenvolvimento Humano: Esta é disciplina que estuda as teorias do ciclo vital humano e suas fase de desenvolvimento. Várias teorias podem ser compreendidas nesta disciplina, como a do desenvolvimento psicossexual de Freud, ou as do desenvolvimento psicossocial de Erikson, ou a teoria genética de Piaget, dentre outras. Esta disciplina é importante para várias outras pois, somente entendendo o esperado “desenvolvimento normal” do sujeito, é que se pode teorizar sobre problemas de desenvolvimento, por exemplo; ou, somente entendendo a história do desenvolvimento da pessoa é que se pode conhecer a sua personalidade;

Psicologia da Personalidade: Esta disciplina é aquela que é a responsável por repassar aos estudantes as distintas teorias a respeito de como o ser humano estrutura a sua personalidade, que pode ser vista como uma espécie de identidade singular do psiquismo de cada sujeito. Algumas teorias da personalidade vão dizer que existem determinados tipos, traços ou padrões que identificam grupos em comum de sujeitos, e que por isso tais grupos devem ser estudados sistematicamente para que se tenha uma compreensão mais ampla do comportamento humano. Esta é uma disciplina extremamente importante para todas as áreas aplicadas do conhecimento da psicologia, assim como a Psicologia do Desenvolvimento Humano, e a;

Psicologia Social: Muitos estudantes pensam, inadvertidamente, que psicologia social é uma abordagem, ou uma teoria, NÃO! Psicologia Social é um campo do conhecimento da psicologia que pode ser entendido sob diversas teorias. Digo isto porque é comum, ao perguntar a um estudante de psicologia, sob qual a sua abordagem (teoria) de interesse, ele responder “eu gosto de psicologia social”. Mas psicologia social, como já dito, não é uma abordagem, mas um campo do conhecimento psicológico que pode ser estudado pelo olhar de diversas abordagens, ou seja: podemos ter uma psicologia social behaviorista, psicanalista, gestaltista, etc. Outra questão importante, muitas pessoas pensam de forma errônea que a psicologia social é um campo antagônico ao da psicologia clínica! NÃO! Como diria Lane (1989), “toda psicologia é social” (p. 19), e isso no sentido de que o homem, sendo um ente social deve ser entendido em sua socialidade, no sentido de que, mesmo na clínica, nas organizações ou onde quer que esteja, a sua socialidade está presente e se manifesta. A psicologia social irá estudar e tentar entender quais são os fatores sociais que estão presentes na constituição da personalidade ou no desenvolvimento deste sujeito. Logo, é importante ter mais do que uma “noção” de psicologia social, mas compreender quais são as implicações deste campo do conhecimento psicológico na vida do sujeito concreto.

Psicologia Geral e Experimental (ou processos psicológicos básicos): É a disciplina onde se estudarão os processos básicos relacionados ao indivíduo em nível biológico e comportamental. Esta disciplina tem como objetivo relacionar aspectos gerais da compreensão do comportamento observável do indivíduo, assim como processos relacionados às estruturas anatomofisiológicas do ser humano. É essencial para a compreensão de como o ser humano ser orienta conforme esquemas de reforçamento, punição ou mesmo através de princípios da economia comportamental. Esta disciplina está muito ligada ao Behaviorismo e Cognitivismo, por serem filosoficamente muito próximas, mas não são de sua exclusividade, uma vez que o conhecimento destas é de nível geral, e não teórico em específico.

Historia da Psicologia (ou História, Teorias e Sistemas em Psicologia): Também é uma disciplian de base, pois dá condições ao estudante de compreender o processo de constituição histórico da psicologia enquanto ciência e profissão e por dar um caráter introdutório às teorias e tradições do pensamento psicológico. Sem entender a história e as bases teóricas da psicologia, ainda que de maneira simplificada, abre-se espaço para que se produzam verdadeiros “produtos deformados” em nossa ciência e profissão. A história da psicologia é importante, e vai muito além do simples fator descritivo, porque esta é que dá sustentação às teorias psicológicas (abordagens) que falam sobre a personalidade, sobre a clínica, sobre as organizações, etc. Pode até não ser a disciplina mais querida pelos estudantes, mas com certeza é muito importante para que exista uma psicologia de qualidade.

Não estou postando-as aqui tentando dizer que são mais importantes que as outras, muito pelo contrário, todas as disciplinas da formação em psicologia são necessárias, na medida em que necessitamos sempre de um conhecimento plural e completo. O que evidencio neste texto é a tendência da criação de disciplinas gerais que servem de base para o conhecimento psicológico, das quais depende muitas teorias aplicadas. Isso também sem esquecer de disciplinas que são de campos de conhecimento afins à psicologia e que são extremamente importantes na formação, como ética profissional, filosofia, etc.

E fica também aberta a reflexão de que, caso tenhamos algum “buraco” na formação em alguma destas áreas, é necessário que revejamos e revisitemos a nossa formação, para que sejamos profissionais qualificados e de excelência no mercado de trabalho.

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Imagem: Extraída do Google Imagens

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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos: Psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com graduação sanduíche e estágio em terapia sistêmico relacional de casais e famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Presidente da Rede Goiana de Psicologia.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Desculpe, mas a sua empresa não está preparada para ter um RH com psicólogo



Infelizmente na atualidade, apesar da modernização dos sistemas de gestão e organização das empresas, ainda existem algumas que não estão prontas para terem um departamento de Recursos Humanos. Mas como pode isto? Simplesmente pelo fato de que alguns gestores ainda não se convenceram da real utilidade de um departamento de Recursos Humanos, principalmente ao ter um psicólogo neste.

O departamento de RH pode ser alocado em vários espaços dentro do organograma administrativo da empresa: Pode ser um setor específico, diretamente subordinado ao presidente, e que supervisione os demais; ou pode ser um dos subsetores do departamento administrativo, desempenhando atividades importantes para o funcionamento de uma empresa, variando do recrutamento e seleção, à contração de pessoas, e treinamentos e desenvolvimento.

Todavia, mesmo estando em lugar privilegiado da empresa, muitas vezes é um setor que não recebe a devida valorização, pelo fato de que os lucros gerados por este são, na maioria das vezes, feitos de maneira indireta, e não dificilmente só são percebidos em longo prazo.

Muitas vezes, o patrão até parece se convencer da necessidade de um pessoal especializado para cuidar da área de Gestão de Pessoas, mas por via de regras não sabe se comportar frente à existência desta: Contrata pessoas passando por cima da autoridade do psicólogo gestor do RH, não o consultando e nem seguindo os procedimentos e políticas adotados pela empresa; Não possui tempo para reunir-se com o diretor da área, para ouvir seus feedbacks e diagnósticos; Não acata as soluções propostas para os problemas apontados pelo RH; Não dispõe de verba para investir na área, com compra de testes psicológicos, organizar um espaço adequado, ou mesmo para treinamento e desenvolvimento de seus colaboradores.

Os problemas apontados no parágrafo anterior são simples exemplos do que ocorre cotidianamente com empresas que adotaram o modelo do RH com psicólogo, mas que simplesmente não o escutam. Este problema deve ser apontado para os diretores das empresas que contratam o psicólogo: Este é um profissional que executa um tipo de trabalho estratégico e não operacional! Ele possui formação para lidar com o desenvolvimento humano em seus diferentes espaços e em suas diferentes possibilidades.

Neste sentido, muitas vezes, o diagnóstico mais terrível e difícil que teremos que dar para uma empresa é o simples “me desculpe, mas a sua empresa não está preparada para ter um RH com um psicólogo”, e isso pelo fato de que os empresários, via de regras, na certeza absoluta de que estão agindo corretamente, e por isso não se importando com a opinião de terceiros, desprezara totalmente o trabalho do psicólogo no RH

E uma empresa sem um departamento de RH é como um hospital sem médico, pois o que movimenta uma organização seja ela qual for, são as pessoas. E para evitar que a sua empresa seja mais uma com problema nesta área, é que fica o nosso apelo para que senhores, gestores, ouçam seus psicólogos, e deem condições e liberdades para os mesmos trabalharem.

E cabe a nós psicólogos, termos a consciência de nosso papel profissional de, muitas vezes dar este tipo de feedback: é o mesmo caso do princípio psicoterapêutico que diz que “não é possível ajudar a quem não quer ser ajudado”, o que da mesma maneira ocorre com algumas empresas, sendo que mesmo manifestando a vontade de ter um departamento de RH, isso não quer dizer que vá agir como se este existisse. Apesar de dolorosa, essa é a nossa missão ética, comunicar como está o nível de desenvolvimento de uma empresa, e às vezes no que se refere ao RH, isso quer dizer que ainda não é hora de tê-lo.

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Imagem: Extraída do Google Imagens

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Sobre o autor

Murillo Rodrigues dos Santos: Psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com graduação sanduíche e estágio em terapia sistêmico relacional de casais e famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Presidente da Rede Goiana de Psicologia.