O conceito de Auto-eco-organização é de autoria de
Morin (2007) e expressa uma nova maneira de enxergar a indissociabilidade entre
o sujeito e mundo. Para compreender esta ideia, há que se referir também há
outro conceito, o do Princípio
Hologramático, que é o que afirma que a mais infinitesimal parte contém
todos os elementos do todo. Ou seja, é uma forma de compreender que, o sujeito
está no mundo, mas o mundo está no sujeito, em uma relação recíproca de
constitucionalidade.
Isso quer dizer que o ser humano
se organiza conforme se relaciona com o ambiente em que vive, e isso tem por
consequência, efeito em seu comportamento. Por exemplo: O “Ciclo Circadiano” é
um conceito importante para entendermos a ideia de auto-eco-organização, pois
este nos dá a mostra de como a luz solar, por exemplo, regula nossos tempos de
sono-vigília (isso porque organizamos o nosso “estar acordado”, geralmente,
para coincidir com a luz do dia). O mesmo pode ocorrer em relação ao humor do
ser humano quando, por exemplo, em países nórdicos, as pessoas são mais
propensas à depressão em períodos de inverno (tal fenômeno se conhece por “Depressão
Sazonal de Inverno”), justamente pela falta de sol que enfrentam – Isso porque
a estrutura de nosso corpo que é responsável por tal relógio se localiza no
Hipotálamo (região cerebral) e é conhecida por Núcleo Supraquiasmático, sendo
uma área estimulada através de fótons (Luz), que são recebidos através dos
olhos e decodificados como informações importantes no/para o cérebro.
Outro exemplo importante é o efeito
do tempo é conhecido pelas mulheres: A menstruação! Ela possui um ritmo, um
ciclo, e este é responsável por alterar, inclusive, desejos sexuais, humor,
relações interpessoais, tudo por conta da regulação hormonal... Além de causar
cólicas e outras intempéries que a poderiam se caracterizar como “um esquema de
punição intermitente de razão fixa”... Este ritmo, geralmente próximo ao mensal
(daí o nome “MENS-truração”, do latim
mestrumms) faz parte dos ciclos ultradianos.
Ou seja, esta série de ciclos,
nada mais é do que uma das maneiras como nos relacionamos com o mundo (e ele
conosco), e como isso afeta (ou até determina) o nosso comportamento e a
maneira como estruturamos a nossa organização psicológica. Tal conceito é
extremamente importante pois dá conta da existência de diversas instâncias que
afluem na formação da personalidade e do comportamento humano como se estes
fossem um imenso quebra cabeças que só fizesse sentido quando completo: Todas
as peças são necessárias para compreendê-lo, e isso só será feito na medida em
que compuserem um todo. Daí a necessidade de reorientarmos a nossa ciência de
um paradigma que simplifica e reduz o objeto, para um paradigma que amplia a
visão sobre ele, pois, olhando para a peça, perde-se a “Gestalt” (forma) do
todo, o que altera grandemente a nossa forma de ver o mundo.
Mas o conceito de Auto-Eco-Organização não se relaciona somente com o tempo: Ele pode estar relacionado também à maneira como nos relacionamos com a topografia do local onde vivemos, pois tiveram que desenvolver dinâmicas diferentes para lidarem com climas/ambientes/relevos diferentes - os esquimós, por exemplo, se comportam de maneira diferente do que os beduínos que vivem nos desertos. E tal conceito também pode ser compreendido nas dinâmicas das relações interpessoais, afinal de contas, o conjunto de relações em que vivemos forma uma grande teia de relações humanas.
Este conceito nos indica a ideia da multideterminação do comportamento humano. Esta que foi abordada, de várias maneiras, sob pontos de vista, linguagens, epistemologias e metodologias diferentes: Kurt Lewin (1890-1947) ao escrever a teoria de campo; Carl Gustav Jung (1875-1961) ao defender que o homem não era governado por um "único princípio psicológico" (como o do prazer ,freudiano; ou do poder, adleriano); Lev Vigotski (1896-1934) ao teorizar sobre as entradas do desenvolvimento; Urie Bronfrembrener (1917-2005) ao escrever a teoria contextual, dentre inúmeros outros. Ou seja, o problema da mutlideterminação do comportamento feat. psiquismo humano já tem sido apontado por vários autores, mesmo que sob teorias conflitantes, mas representando um princípio geral.
Tais ideias fazem parte do
Paradigma da Complexidade, que é idealizado para um reforma do pensamento no
século XXI, de modo a unir ramos do conhecimento que parecem desconectados, mas
que quando juntos fornecem um grande e nova compreensão para o conhecimento:
Este ensaio por exemplo, foi escrito sob as mãos da Psicologia, Neurologia, Geografia, Cronobiologia,
Linguística e Filosofia, para entregar uma nova compreensão de, como coisas,
mesmo que pareçam muito distantes (Afinal de contas, o que o sol tem a ver com
a depressão?!) podem afetar o comportamento humano. Por isso, há sim, que se
repensar nossa visão, sobre o que conhecemos por psicologia no século XXI.
Referência
Morin, E. (2007). Introdução ao pensamento complexo, 3ª Ed.
Porto Alegre: Sulina.
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade
Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente
da Rede Goiana de Psicologia.
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