terça-feira, 24 de março de 2015

Não, psicólogo! Você não é “doutor”...




...assim como também não o são advogados, médicos, juízes, promotores, ou qualquer pessoa que se julgue assim sem ter um título de doutorado! Isso mesmo, doutor não é pronome de tratamento, é titulação acadêmica, e estas são coisas totalmente diferentes: Em uma decisão fantástica do Supremo Tribunal Federal, em um caso esdrúxulo onde um juiz exigia ser chamado de “doutor” pelo porteiro de seu prédio, sendo que o magistrado teve sua causa indeferida com a mesma alegação do STF, houve o mesmo entendimento – Doutor é titulação, não pronome.

Apesar de todo o mi mi mi, principalmente da classe jurídica, alguns usando de um absurdo decreto da época do Império, que dizia respeito a advogados portuguesas na Corte Brasileira, fazendo uma interpretação descontextualizada e duvidosa, arrogam-se do direito de serem chamados por tal. Não! Advogados são advogados, juízes são meritíssimos! De igual forma se dá com a classe médica: Médicos não tem o direito de serem chamados de doutores simplesmente por terem feito uma graduação em medicina, com a residência ou especialização que forem.

Para isso, tenho que esclarecer algumas coisas - existem dois tipos de Pós Graduação no Brasil:
As pós do tipo Latu Sensu, são aquelas que o profissional, após ter se graduado, faz para obter o título de especialista em determinada área do conhecimento, específico de uma profissão. Ao final delas, cuja carga horária não deve ser inferior a 360 horas, o estudante pode operar com maior precisão determinado conhecimento de uma área específica do conhecimento. São especialmente mais voltadas e valorizadas pelo mercado de trabalho, especificamente por serem mais relacionadas com questões técnicas.

As pós do tipo Stricto Sensu, que são divididas em duas: Mestrado e Doutorado. Nestas, o profissional estará se qualificando, em 2 anos para Mestrado, e 4 para o Doutorado, a exercer a função de acadêmico, ou seja, um profissional apto para lecionar ou pesquisar nas universidades. No mestrado, a pessoa deve defender em um período de 2 anos uma dissertação científica em alguma área do conhecimento, sendo que após aprovado, se torna apto para dar aulas em cursos de Graduações(os especialistas também podem dar aulas em graduações, mas pela Lei 9394/96 uma porcentagem mínima obrigatória deve ser de docentes Stricto Sensu), e recebe o título de Mestre. No doutorado, após defender uma Tese, com caráter inédito para a ciência, o profissional recebe o título de doutor e está apto para dar aulas em Graduações e Pós Graduações.

Ainda existe o chamado Pós-Doutorado, ou Estágio Pós-Doutoral, mas este não é uma titulação acadêmica, propriamente dita, mas um período em que o doutor cumpre realizando pesquisas para aperfeiçoar parte de sua Tese ou mesmo outra ideia de pesquisa. Trata-se deu uma espécie de estágio para doutores.

Estas diferenciações, por mais simples que possa ser, parecem ser desconhecidas ou negligenciadas por parte dos profissionais de psicologia, pois muitos, depois de formados, colocam um “Dr.” ou “Dra.” na frente de seus nomes em cartões de visitas, nas redes sociais, nos jalecos profissionais, etc. Mas o que isso tem a ver? Além de ser um possível sinal de prepotência profissional, fere o CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA:

"Art. 20: O psicólogo, ao promover publicamente os seus serviços, por quaisquer meios, individual ou coletivamente:
a) Informará seu nome completo, o CRP e o número de registro;
b) Fará referências apenas a títulos ou qualificações profissionais que possua."

Ou seja, para não incorrer em falta ética, é melhor observar atentamente a questão das qualificações, e para ajudar aos profissionais ou psicólogos, listo abaixo as abreviações das titulações para que não haja confuusão:

Gr.= Graduado (Usado para bacharéis ou bacharelas em psicologia que ainda não possuem inscrição no conselho)

Psic. ou Psi. = Psicólogo (Usado para profissionais de psicologia já inscritos no conselho, em conjunto com o número do CRP e do Registro)

Esp. = Especialista

Ms. = Mestre ou Mestra

Mstdo. ou Mstda. = Mestrando ou Mestranda

Dr. ou Dra. = Doutor ou Doutora (Muitas pessoas usam “Drº”, sendo que essa forma é gramaticalmente errada)

Drdo. ou Drda. = Doutorando ou Doutoranda

Neste sentido amigos, cabe-nos difundir conhecimento para minimizar práticas nocivas a nossa profissão, principalmente no que tange ao campo ético, da ostentação de determinadas titulações não para identificação, mas sim para afirmação de poder sobre pessoas e grupos. Ou seja, a não ser que você tenha feito um doutorado, você não é doutor!

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Imagem: Extraída do Google Imagem

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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com graduação sanduíche e estágio em Terapia Sistêmico Relacional pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede Goiana de Psicologia.

Sobre a Rede Goiana de Psicologia

A Rede Goiana de Psicologia é uma organização estadual de coolaboração acadêmica e profissional, criada no ano de 2014 com o objetivo de fortalecer a nossa a psicologia enquanto ciência e profissão através de uma série de projetos. Quer saber mais sobre nós? Clique no link "sobre nós" no menu principal.

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