Loira, negro, branco, pobre,
índio, feio, crente, ateu, gay, puta, piriguete, deficiente, são todos rótulos
para explicar, enquadrar, orientar, de maneiras menos ou mais politicamente
corretas, uma categoria geral de seres vivos: Gente.
O ser humano parece ter a
necessidade de criar rótulos para si ou para os seus semelhantes, e isso parece
ter algumas funcionalidades: Em primeiro lugar, rótulos servem para economizar energia nas relações humanas.
Isso porque é fácil se relacionar com categorias de pessoas, esperando comportamentos
comuns à elas, ao invés de se esmerar no conhecimento das qualidades
individuais de cada pessoa, pois cada uma é singular no mundo e o comportamento
de cada varia... Pense que inferno seria viver em mundo em que você teria que
conviver pelo menos um dia inteiro com cada pessoa para tirar conclusões a
respeito dela?! Seria ideal? Talvez, mas levaria muito mais tempo para
desenvolvermos relações humanas e por isso, viver em sociedade. Ou seja, não
seria parcimonioso (econômico), e isso impossibilitaria as relações. Por isso,
o ser humano parece ser preparado pela natureza para pensar a sociedade, e os
indivíduos que a compõe através de rótulos.
E isso nos leva ao segundo ponto,
pensar o ser humano por rótulos parece ajudar a formação de grupos sociais. Eles são muito importantes, e sempre
foram na história da humanidade! Primeiramente, há milhares de anos, desenvolveram
um papel crucial na sobrevivência dos homens pré-históricos, e hoje, continuam
desenvolvendo um papel essencial, em tarefas não menos importantes para a
formação e manutenção da humanidade, como a sociabilidade, a criação de redes
de informação e etc.
O terceiro ponto, pelo qual se
pode entender os relacionamentos baseados em rótulos pode ser entendido para a afirmação de uma identidade! Tal
identidade pode ser autoafirmada ou insuflada por outros para o indivíduo e tem
como objetivo demarcar a nossa singularidade no mundo. Tal identidade pode ser
individual ou grupal: Um grupo LGBT, um grupo de pesquisadores da teoria
psicanalítica, um grupo de religiosos, etc. E isso nos leva ao quarto ponto que
é...
A afirmação política. Sim, a rotulação de pessoas e relações pode
ser usada para a afirmação política, se a entendermos como afirmação de uma
posição e de poder. Isso pode ser facilmente compreendido nos mecanismos de
formação de governos, ou de políticas públicas ou de Estado/Governo, por
exemplo: Eu sou brasileiro (um ser que vive em um território, com linguagem e
costumes, relativamente comuns à outros indivíduos) que entende ser necessária
a política de cotas para pobres (política de governo) para a diminuição das
diferenças dos excluídos sociais (política de Estado). Ou seja, em uma única frase,
fui capaz de usar três rótulos para me posicionar politicamente.
E por último, deixei a o mais “macabro”
de todos eles, mas que é real, e pode ser compreendido pela junção de um ou
todos os itens anteriores: A segregação!
Sim, esta que é uma das expressões políticas fruto do extremo da estigmatização
(Goffman, 1980). Dá se o nome para uma pessoa/grupo por conta de algum “marcador
social” com o objetivo de rebaixá-lo a algum nível de subserviência e obter
algum tipo de benefício político com isso.
Ou seja, o que se passa com o
relacionamento com rótulos é que, eles sempre ocorrem nas dinâmicas
interpessoais, e eles são parte natural do processo de “encontro” com outra
pessoa no mundo. Na medida em que nossas relações vão se aprofundando eles vão
dando lugar à um conhecimento verdadeira da pessoa/grupo. Não que os rótulos
deixem de existir, na verdades rótulos novos dão lugar à rótulos velhos, e isso
não é necessariamente maligno. Maligno é o fato de usar os rótulos para
diminuir ou extrair vantagem de um semelhante. Acredito que os rótulos foram
impressos na natureza como forma de nos dar atalhos para o estabelecimento das
relações humanas, e que devem, por isso, ser usados para tal finalidade benéfica para o ser humano, e não para os efeitos colaterais que isso pode gerar.
Referência
Goffman, E. (1980). Estigma: Notas sobre a manipulação da
identidade deteriorada. Petrópolis: Vozes.
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade
Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente
da Rede Goiana de Psicologia.
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