sábado, 24 de janeiro de 2015

Porque os seres humanos criam “Rótulos” uns para os outros?




Loira, negro, branco, pobre, índio, feio, crente, ateu, gay, puta, piriguete, deficiente, são todos rótulos para explicar, enquadrar, orientar, de maneiras menos ou mais politicamente corretas, uma categoria geral de seres vivos: Gente.

O ser humano parece ter a necessidade de criar rótulos para si ou para os seus semelhantes, e isso parece ter algumas funcionalidades: Em primeiro lugar, rótulos servem para economizar energia nas relações humanas. Isso porque é fácil se relacionar com categorias de pessoas, esperando comportamentos comuns à elas, ao invés de se esmerar no conhecimento das qualidades individuais de cada pessoa, pois cada uma é singular no mundo e o comportamento de cada varia... Pense que inferno seria viver em mundo em que você teria que conviver pelo menos um dia inteiro com cada pessoa para tirar conclusões a respeito dela?! Seria ideal? Talvez, mas levaria muito mais tempo para desenvolvermos relações humanas e por isso, viver em sociedade. Ou seja, não seria parcimonioso (econômico), e isso impossibilitaria as relações. Por isso, o ser humano parece ser preparado pela natureza para pensar a sociedade, e os indivíduos que a compõe através de rótulos.

E isso nos leva ao segundo ponto, pensar o ser humano por rótulos parece ajudar a formação de grupos sociais. Eles são muito importantes, e sempre foram na história da humanidade! Primeiramente, há milhares de anos, desenvolveram um papel crucial na sobrevivência dos homens pré-históricos, e hoje, continuam desenvolvendo um papel essencial, em tarefas não menos importantes para a formação e manutenção da humanidade, como a sociabilidade, a criação de redes de informação e etc.

O terceiro ponto, pelo qual se pode entender os relacionamentos baseados em rótulos pode ser entendido para a afirmação de uma identidade! Tal identidade pode ser autoafirmada ou insuflada por outros para o indivíduo e tem como objetivo demarcar a nossa singularidade no mundo. Tal identidade pode ser individual ou grupal: Um grupo LGBT, um grupo de pesquisadores da teoria psicanalítica, um grupo de religiosos, etc. E isso nos leva ao quarto ponto que é...

A afirmação política. Sim, a rotulação de pessoas e relações pode ser usada para a afirmação política, se a entendermos como afirmação de uma posição e de poder. Isso pode ser facilmente compreendido nos mecanismos de formação de governos, ou de políticas públicas ou de Estado/Governo, por exemplo: Eu sou brasileiro (um ser que vive em um território, com linguagem e costumes, relativamente comuns à outros indivíduos) que entende ser necessária a política de cotas para pobres (política de governo) para a diminuição das diferenças dos excluídos sociais (política de Estado). Ou seja, em uma única frase, fui capaz de usar três rótulos para me posicionar politicamente.

E por último, deixei a o mais “macabro” de todos eles, mas que é real, e pode ser compreendido pela junção de um ou todos os itens anteriores: A segregação! Sim, esta que é uma das expressões políticas fruto do extremo da estigmatização (Goffman, 1980). Dá se o nome para uma pessoa/grupo por conta de algum “marcador social” com o objetivo de rebaixá-lo a algum nível de subserviência e obter algum tipo de benefício político com isso.

Ou seja, o que se passa com o relacionamento com rótulos é que, eles sempre ocorrem nas dinâmicas interpessoais, e eles são parte natural do processo de “encontro” com outra pessoa no mundo. Na medida em que nossas relações vão se aprofundando eles vão dando lugar à um conhecimento verdadeira da pessoa/grupo. Não que os rótulos deixem de existir, na verdades rótulos novos dão lugar à rótulos velhos, e isso não é necessariamente maligno. Maligno é o fato de usar os rótulos para diminuir ou extrair vantagem de um semelhante. Acredito que os rótulos foram impressos na natureza como forma de nos dar atalhos para o estabelecimento das relações humanas, e que devem, por isso, ser usados para tal finalidade benéfica para o ser humano, e não para os efeitos colaterais que isso pode gerar.

Referência
Goffman, E. (1980). Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Petrópolis: Vozes.

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Imagem: Extraída do Google Imagens

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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede Goiana de Psicologia.

Sobre a Rede Goiana de Psicologia

A Rede Goiana de Psicologia é uma organização estadual de coolaboração acadêmica e profissional, criada no ano de 2014 com o objetivo de fortalecer a nossa a psicologia enquanto ciência e profissão através de uma série de projetos. Quer saber mais sobre nós? Clique no link "sobre nós" no menu principal.

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