Já diz um antigo ditado, que
expressa muito a realidade atual de algumas pessoas: “Para quem não sabe para
onde vai, qualquer caminho serve”; E é este problema que tenho visto na vida de
algumas pessoas nos últimos dias, principalmente jovens – de não fazer a menor
ideia do que se quer para a vida ou para o futuro - e eu gostaria de propor uma
pequena reflexão sobre isso.
Muitas pessoas estão sem perspectiva de vida, simplesmente porque não foram ensinadas a pensar sobre o seu futuro, e muito menos a planejá-lo. E não digo isto como se houvesse uma filosofia do “viva o aqui e agora”, “deixe o amanhã para depois” com tais pessoas, mas vejo a simples despreocupação geral com a vida. Mas o que significa isso? Isso significa que as pessoas estão cada dia mais vivendo sem objetivos concretos, sem plano de vida, e isto possui implicações cada vez piores para a saúde psicológica do indivíduo.
Viver sem metas claras para a vida é assinar um cheque em branco para a mediocridade, é entregar-se à casualidade ou à rotina e ao comodismo. Mas para que se deve fazer um plano de vida? Simplesmente porque a vida funciona com base na busca de um sentido objetivo de existência (Frankl, 2009), sendo que, a cada objetivo alcançado, elege-se outro para continuar tendo o porquê existir, exemplificando a máxima de Nietzsche que diz, “quem tem pelo o que viver suporta quase qualquer como”. E viver sem objetivos de vida é entregar-se para o esvaziamento do sentido de existência: Isso pode ocorrer abruptamente ou progressivamente, podendo desencadear processos depressivos no indivíduo.
Além de causar um processo de esvaziamento do sentido de existência, viver sem objetivos claros pode levar à um estilo de vida de empobrecimento e ignorância, na medida em que não se importam às condições que estão ao redor do indivíduo, mesmo elas podendo ser ameaçadoras e carentes de preocupação.
Viver sem preocupar-se com objetivos é uma porta aberta para o adoecimento do narcisismo: Este que deveria ser razoavelmente bem resolvido na juventude adulta ou na adultez, pode simplesmente apresentar uma crise, na medida em que, não ter objetivos pelos quais se preocupar, pode dizer algo a respeito do desprezo ao que não seja o eu no aqui e agora.
E por último, resta dizer que, viver sem objetivo de vida é estar fadado ao fracasso ou contar com a sorte: Não pensar no futuro, não pensar nas condições de existência ou no caminho da vida, é o primeiro estágio para o desperdício de potencial, que somado ao desperdício de oportunidades, termina na perda de resultados. Enfim, para viver com qualidade é preciso aprender a transitar entre dois extremos: A certa dosagem de uma ansiedade saudável que motiva para a vida e, viver o aqui-e-agora. Entregar-se para um destes extremos te derruba da corda bamba da vida, mas saber equilibrar-se neste malabarismo, parece fazer toda a diferença.
Referência
Frankl, V. E. (2009). Em
busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração, 25ª Ed.
Petrópolis: Vozes.
Sobre o autor:
Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo pela PUC Goiás (Brasil),
com graduação sanduíche e estágio em Terapia Sistêmico-Relacional de Casais e
Famílias na Universidad Católica Del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento
profissional pela Brown University (Estados Unidos) com bolsa da Fundación
Botín (Espanha), certificação em Business pela Fundação Getúlio Vargas (Brasil). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás. Presidente da
Rede Goiana de Psicologia.
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