domingo, 21 de dezembro de 2014

Aos mestres, com carinho




“O ensino de psicologia no Brasil é medíocre”, ou pelo menos é essa a conclusão proposta em uma pesquisa conduzida em 2003. Mesmo que levianamente, isso já possa ser inferido do desempenho 50% que se exige dos estudantes em boa parte das instituições, e esse último tópico não se restringe a formação em psicologia, é generalizável à toda a educação.

Não há coesão quanto às soluções propostas para o ensino (esse mais específico do que a educação), que vão desde aumentos nos salários ao uso de projetores e portas de vidro. Essas saídas não melhoram o ensino pois são negligentes quanto ao método.

Me adianto em dizer que o salário de professores e não-professores no Brasil é comparativamente baixo, está a frente de poucos países nas américas. O professor deve ser valorizado pelo papel social que exerce, mas há controvérsia quanto aos resultados de estudos correlacionais entre a qualidade do ensino e o salário de professores. Se há correlação não necessariamente há causa e, mesmo que admita-se alguma, não sabemos se os melhores professores são mais bem pagos, ou se melhoram a medida que seus salários crescem. Nosso problema vai além disso, é metodológico.

Os psicólogos, como dito anteriormente, não são exceção à regra ingrata que descreve nossa educação. Isso não seria um problema se os psicólogos não tivessem se debruçado sobre o processo chamado “aprender”, se não “ensinassem como ensinar” e, principalmente, se não fossem geralmente tomados como responsáveis pela mudança do comportamento humano. Em contexto educacional institucionalizado temos falhado, por isso gosto da expressão usada pelo professor Dr. Márcio Borges: “Em casa de ferreiro, espeto de pau”.

Embora sejam comumente tomados como variável independente, psicólogos, professores, e professores de psicologia, não são agentes iniciadores de sua própria conduta, sendo assim não convém procurar culpados. Aliás, não percam tempo, pois grupos ou indivíduos, cada um carrega suas contingencias.

Os organismos aprendem através do contato com o meio ambiente, mas nem por isso são vitimas do processo. Muitos dos produtos de nossas ações podem, posteriormente, alterar a probabilidade de que façamos isso ou aquilo. Por isso programamos despertadores para o dia seguinte, por isso fazemos listas antes de irmos ao supermercado, e por isso os professores planejam seus cursos. Um comportamento que produz esse tipo de alteração é o chamado comportamento de “medir”, que produz uma “medida”, e essa medida ira nos dizer de que forma proceder. E a educação com isso?.

Pesquisadores tem medido através ensaios comparativos os efeitos de variáveis sobre o “aprender” e desenvolvido alguma tecnologia na área (e.g., as pesquisas sobre Prescision Teaching e sobre o Personalized System of Instruction). Existem alternativas (não únicas, nem necessariamente as melhores) a esse método de ensino chamado “tradicional”, e as medidas têm nos mostrado que elas podem ser um caminho para melhorarmos a educação formal. Mas ainda assim, as instituições e mesmo os professores que detém alguma autonomia na preparação de seus cursos, tem optado mais comumente por um método de ensino baseado em “giz e cuspe”.

É justo que se diga, talvez muitos professores não conheçam essas alternativas e consequentemente não estejam preparados para conduzir suas aulas de forma diferente do que tem feito. A esses, uma busca rápida na internet com os termos que coloquei acima já é um primeiro passo interessante.

Outra possibilidade é que talvez não tenhamos exercido o devido contra controle. Os estudantes devem ser um auditório exigente. Em uma escola as condições para que o aprender ocorra devem estar dispostas, e o s estudantes são corresponsáveis. Isso significa posicionar-se frente a condições inadequadas, muitas vezes uma conversa informal com aquele professor que passa a aula lendo seus próprios slides pode ajudar, se não, as instituições em geral dispõe de meios para esse feedback.

Se as contingencias para educandos e educadores não mudarem, tampouco a educação muda.
           
           
Referências Bibliográficas

Fox, E. J. (2004). The personalized system of instruction: A flexible and effective approach to mastery learning. Evidence-based educational methods, 201-221.
Fraley, L. E. (1996). Verbal behavior in the measuring process. The Analysis of verbal behavior, 13, 123.
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Meacham, M. L., & Wiesen, A. E. (1969). Changing Classroom Behavior: A Manual for Precision Teaching. Pennsylvania: International Textbook Co.
Moreira, M. B. (2004). Em casa de ferreiro, espeto de pau: o ensino de análise experimental do comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 6(1), 73-79.
Pereira, F. M., & Pereira Neto, A. (2003). O psicólogo no Brasil: notas sobre seu processo de profissionalização. Psicologia em estudo, 8(2), 19-27.
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Witt, J. C., Noell, G. H., LaFleur, L. H., & Mortenson, B. P. (1997). Teacher use of interventions in general education settings: Measurement and analysis of the independent variable. Journal of Applied Behavior Analysis, 30(4), 693-696.

Imagem extraída do Google Imagens 

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Sobre o autor

João Lucas Bernardy, é Bacharel em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Durante a graduação participou dos projetos de pesquisa “Operantes”; e “Operantes: estudos empíricos e experimentais” ambos sob orientação do professor Dr. Lorismario Ernesto Simonassi. Durante seu trabalho de conclusão de curso (não publicado) conduziu um estudo comparativo entre o método de ensino tradicional e o método de ensino personalizado em uma disciplina obrigatória para a formação em Psicologia.

Sobre a Rede Goiana de Psicologia

A Rede Goiana de Psicologia é uma organização estadual de coolaboração acadêmica e profissional, criada no ano de 2014 com o objetivo de fortalecer a nossa a psicologia enquanto ciência e profissão através de uma série de projetos. Quer saber mais sobre nós? Clique no link "sobre nós" no menu principal.

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