Passo a elencar alguns fatores
que podem apresentar-se como problemas, ou mesmo como erros, que parecem ser os
“mais frequentes” entre os estudantes de Psicologia recém ingressados na
faculdade. O objetivo deste texto não é suscitar nenhuma polêmica ou levantar qualquer tipo de generalização, pois não se trata de uma pesquisa científica, mas sim de uma reflexão sobre o cotidiano.
1. Se achar o Sr. “psicólogo” na primeira semana de aula
Esse é muito comum, por isso foi
eleito o primeiro da lista: Muitas vezes o estudante acaba de passar no
vestibular, nem fez a matrícula na universidade, e já todo orgulhos vai mudar o
seu perfil nas Redes Sociais, na área educativa “Fulano cursa Psicologia na
Universidade...”. E já passa a ser chamado de “psicólogo da família” (normal,
quem não fica alegre com um filho, neto ou sobrinho aprovado em um vestibular),
recebendo uma grande dose de reforçamento social, mas... Na medida em que o
estudante vai tomando mais confiança em seu status, e isso geralmente ocorre
ainda no primeiro período, ele pode passar a ver-se em um local onde percebe
que, mesmo com um saber ainda inexistente ou insipiente na ciência, as pessoas
já esperam algo dele por sua posição social (o senso comum também tem lá os
seus fetiches com nossa profissão) e passa a dar “pareceres” com a famosa
frase: “Eu acho que é isso...”... Enfim, resumindo este ponto: O erro é afirmar
uma posição social para afirmação de um poder ilusório que existe na imaginação
popular a respeito de nossa profissão.
2. Achar que sabe mais do que o professor
Também muito comum, pode ocorrer
que, o estudante, por não concordar com o professor, passa a questioná-lo
sempre, com a intenção de tentar desacreditá-lo ou deixá-lo em “saia justa”
perante a turma. Geralmente este tipo de postura é feita por uma pessoa que tem
traços desafiadores à figuras de autoridade e pode estar assentado sobre raízes
de orgulho ainda não muito bem resolvidas. Não há nada de errado em discordar
de um professor, afinal de contas, isso é privilégio para quem tem cérebro
pensante, mas na medida em que isto se torna uma orientação constante, pode-se acender
uma luz de preocupação. É uma questão de lógica: Um estudante de graduação de
primeiro ano possui (via de regras) bem menos bagagem intelectual do que seu
professor, que passou pela mesma graduação (em geral, de 5 anos), por uma
especialização latu sensu (1 ano e 6 meses), por um mestrado (2 anos), por um
doutorado (4 anos) e se brincar, por um pós doutorado (2 anos). Não que o tempo
de estudo faça alguém melhor do que outrem, mas que, as sandálias da humildade
para reconhecer o processo de construção intelectual de um professor é um
excelente caminho para a construção de um bom aluno, isto é!
3. “Escolher” a sua abordagem no primeiro período
Muitos colegas encantam-se (ou
sugestionam-se) facilmente nas primeiras semanas de aula. Alguns parecem sofrer
um fascínio inexplicável pelo “Ratinho”, cujo comportamento acabaram de
aprender a modelar no Laboratório de Psicologia Experimental; Outros se
apaixonam pela ideia de “inconsciente” ou “libido” na sua primeira aula de
História (ou Matrizes) da Psicologia, ou por qualquer outro construto de
qualquer teoria. Mas o fato é que, em um período, dois, três ou pelo menos por
boa parte da graduação, é muito difícil afirmar-se fazer parte de determinada “escola
de pensamento”, sem conhecer a fundo tão escola e, pelo menos, superficialmente
as outras. Escolhas justas devem ser feitas sob “pé de igualdade” ou pelo menos
quando a “Descrição das contingências do comportamento de escolha estiverem bem
especificadas”... Enfim, e acredito que posso afirmar isso com grande eco de
concordância de meus pares da academia: Escolher uma abordagem tão cedo na
carreira acadêmica é algo extremamente perigoso, simplesmente porque pode
fortalecer o processo de ausência de reflexão crítica a respeito da própria
ciência que se pratica, afinal, é preciso saber pelo menos algo sobre dois “produtos”
para poder escolher entre eles.
4. Tentar usar o termo científico “novo” que aprendeu para explicar tudo
Essa é muito marcante, e
engraçada na maioria das vezes: O estudante acaba de aprender o que significa “Reforçamento
Positivo” e usa isso para tudo – “a professora me reforçou positivamente na
prova”, “essa tarefa não me reforça positivamente”, e etc, etc... O que
acontece é que, salvo exceções, termos científicos são feitos para serem usados
em situações científicas e não para ser um “comportamento ecóico” na vida
social. E isso serve para todas as abordagens, ou ramos do conhecimento,
exemplo: Achar que uma criança tem “retardo mental” ou “atraso no
desenvolvimento cognitivo” em uma avaliação somente porque errou algumas
questões, justamente pelo estudante desconsiderar outras questões como uma
instrução mal realizada, ou mesmo um histórico de pobre estimulação social da
criança. Enfim, é preciso ter mais parcimônia no uso de determinados termos que
foram muito “caros” ao conhecimento psicológico.
5. Interpretar teorias sem ter uma leitura completa
Este é o famoso achismo teórico
que também recheia a academia: “Acho que Freud era um tarado” (por não ter
entendido bem a teoria sobre a libido), ou “acho que Skinner era um simples
condicionador de pombos” (sem ter lido uma linha sequer de seus trabalhos).
Enfim, é “achar” coisa demais para quem “procurou de menos” – é preciso ler
sobre um autor para poder criticá-lo. Não que você não possa emitir opiniões
parciais sobre um tema, mas deve-se deixar claro o fato de que são apenas
parciais para não haver a manutenção de preconceitos sobre teorias.
6. Tentar categorizar todas as pessoas em rótulos
Tentar agrupar todos os
conhecidos em categorias que acabou de conhecer na universidade: Fulana é
esquizofrênica, Ciclano é Superdotado, Beltrano éTDAH... A questão é que para
ser psicólogo não é preciso colocar pessoas em rótulos, mas saber o que fazer
com a pessoa por trás do rótulo. Justamente por ter um conhecimento muito
parcial das teorias, os calouros podem correr o risco de colocar um “diagnóstico”
em uma pessoa e, causar-lhes inúmeros prejuízos para com isto.
7. Agarrar-se aos seus preconceitos e visão de mundo para “combater”
teorias
Por ser religioso, político,
feminista, machista, capitalista, comunista, socialista, malabarista, pianista,
vigarista, turista, ou qualquer “ista” que conste em qualquer lista. Pessoas que
participam ou se reconhecem como parte ou membro de algum grupo: Existe certa
tendência natural à defesa de suas crenças e fé nos “primeiros impactos”,
afinal de conta, a Psicologia enquanto ciência envolve a necessidade de um
pensamento muito flexível e pronto para abalar certezas – estas que são o
estandarte de determinadas filosofias ou dogmas de distintos grupos sociais.
8. Fechar-se para novas idéias
Justamente por todos os pontos
anteriores, fechar-se em suas teorias, focando-as de modo a não enxergar
nenhuma outra, faz com que ocorra um empobrecimento intelectual diante da falta
de busca e incentivo à pesquisas.
9. Fazer grupos sociais muito restritos
Essas são as famosas “panelinhas”,
e são muito comuns em todo agrupamento psicológico relativamente imatura e
ainda não coeso. O processo de formação de subgrupos é relativamente comum em
grupos iniciais – todavia, criar grupos com as “fronteiras” muito cristalizadas
poderá fazer com que o estudante se perca em relações sociais que fortalecem
suas feridas narcísicas. Estudantes de psicologia tem entre seus colegas um
laboratório perfeito para aprenderem sobre questões interrelacionais.
10. Querer interpretar tudo e todos
E por último, mas para fechar com
chave de ouro, faço referências a este item que encaixa-se perfeitamente ao
nível 1 (até por suas semelhanças) como o fenômeno das pessoas consideradas
chatas entre seu grupo de amigos simplesmente pelo fato de tentar interpretar
cada espirro alheio como um ato “falho” ou coisa que o valha.
Enfim, esta lista pode compreender
algo sobre a realidade de uma parte dos calouros, mas cabe-nos ressaltar que,
cada um destes itens, que por mais figurativos que sejam, podem ser comuns na
vida de umas pessoas. Na medida em que os próprios estudantes de psicologia
passarem a ser dar conta dos processos psicológicos que os perpassam todos os
dias, ficará mais fácil perceberem como superar os seus erros mais comuns.
Já vivenciou algum destes ou passou por estas etapas? Sorria, a maioria de nós passamos (ou quase todos)... O jeito é compreender que é uma fase natural do nosso processo de formação, o problema se dá quando nos recusamos a refletir sobre o assunto e não superamos esta etapa. Por isto, o jeito é, olhar para o nosso passado e tê-lo como uma grande e exemplar "linha de base" para nossa formação acadêmica, científica e profissional.
Já vivenciou algum destes ou passou por estas etapas? Sorria, a maioria de nós passamos (ou quase todos)... O jeito é compreender que é uma fase natural do nosso processo de formação, o problema se dá quando nos recusamos a refletir sobre o assunto e não superamos esta etapa. Por isto, o jeito é, olhar para o nosso passado e tê-lo como uma grande e exemplar "linha de base" para nossa formação acadêmica, científica e profissional.
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Sobre o autor
Murillo Rodrigues dos Santos,
é psicólogo - CRP 09/9447 (PUC Goiás - Brasil), com graduação sanduíche na Universidad
Católica Del Norte (UCN – Chile). Mestrando em Psicologia (UFG – Brasil).
Atualmente é pesquisador pela CAPES e preside a Rede Goiana dePsicologia.
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