Não sou uma pessoa adepta ao
behaviorismo, mas isso não me impede de dialogar com este ramo do conhecimento
psicológico e nem de tentar buscar uma compreensão de suas aplicações para a
psicologia como um todo. As teorizações dos autores desta vertente do
pensamento psicológico encontram grande acolhida nas universidades, institutos
de pesquisa, consultórios e na academia nos dias de hoje.
A história do Behaviorismo passa
por diversas fases, encontra várias correntes e vertentes no seu caminho, mas
podemos dizer que Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), considerado o pai do
Behaviorismo Radical, é sem dúvida um dos grandes teóricos da psicologia, como
um todo, e o maior expoente desta vertente de pensamento.
Uma das contribuições deste autor
foi sobre os esquemas de reforçamento, cujo teor pode ser conferido nas
publicações de Skinner (1953/2003), Catania (1999) e Moreira e Medeiros (2007).
E é com base nestas contribuições que podemos compreender grande parte dos
comportamentos que existem hoje em nossa sociedade.
Tentando entender tais princípios
aplicados à vida cotidiana, usamos o Facebook como exemplo: O Facebook é uma
ferramenta baseada em interações sociais através de redes digitais. Através
dele é possível compartilhar fotos, pensamentos, textos e uma série de outras
experiências que são reforçadas socialmente por um público. Na maioria das
vezes, este reforçamento é baseado na função oferecida pelos botões “Like” (“Curtir”,
na versão portuguesa), demonstrando que um público aprova determinada ação do
autor.
Deste modelo é importante notar
que o Facebook não possui um botão “dislike” (“Não curtir”), o que demonstra
que a base desta Rede Social é focada em um esquema de reforçamentos positivos
de comportamentos socialmente considerados assertivos. Todavia, conforme os autores já nomeados no
texto, existem, basicamente, dois tipos de esquemas de reforçamento: 1)
Esquemas de reforçamento contínuo e; 2) Esquemas de Reforçamento Intermitente.
O Facebook se baseia em um dos
subtipos de Reforçamento Intermitente: O esquema de reforçamento intermitente
de razão variável. O que isto quer dizer? O Reforçamento Intermitente de Razão
Variável é aquele que ocorre quando um evento é reforçado (Quando as pessoas
curtem determinada ação no Facebook) sem apresentar uma razão (número de
pessoas) fixa. Ou seja, ao postar uma foto no facebook a pessoa não sabe se vai
receber 10, 20 ou 200 curtidas – esta indefinição é o que podemos chamar de
razão variável.
O que acontece é que este esquema
de reforçamento é aquele que elicia o maior número de respostas e é o mais
resistente à extinção (Gerrig & Zimbardo, 2005), e teve a genialidade de
ser aplicado com eventos de reforçamento de ordem social. Basicamente o que o
Facebook faz é criar um ambiente onde a punição é mantida sobre controle (não
existe o botão “dislike”, mas a punição pode advir de outras fontes, como dos
comentários da comunidade verbal existente na rede), em um ambiente rico de
estimulação, reforçada intermitentemente por uma comunidade verbal.
O que os criadores do Facebook
compreenderam é a necessidade que as pessoas possuem de aprovação social, e as
ferramentas capazes de fazê-la ocorrer. Uau! Nada difícil de se esperar, afinal
de contas seu principal fundador, Mark Zuckerberg, estudou nada mais nada menos
que, além de ciências da computação, psicologia na Universidade de Harvard. “Tá
explicado!”
Referências
Catania, A. C. (1999). Aprendizagem:
Comportamento, Linguagem e Cognição. Porto Alegre: Artmed.
Gerrig, R. J., & Zimbardo, P. G. (2005). Psicologia e a vida, 16ª Ed. Porto
Alegre: Artmed.
Moreira, M. B., & Medeiros, C. A. (2007). Princípios básicos da Análise do
Comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Skinner, B.
F. (2003). Ciência e comportamento humano (J. C. Todorov, Trad.). São Paulo:
Martins Fontes.
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Imagem: Extraída
do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos
Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com graduação
sanduíche pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento
profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín
(Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil).
Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede Goiana de
Psicologia.
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