quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Uma teoria sobre o porquê da “vontade de viajar”




Sabe aquela vontade grande, às vezes quase incontrolável, de pegar as malas e sair por aí, mundo afora, até mesmo sem destino (para os mais desapegados) ou mesmo sair para um “retiro espiritual” longe da correria da rotina comum do século XXI? Pois bem, ela pode ser muito mais do que uma simples “fuga do estresse”.

Basicamente o ser humano é uma série de processos biológicos, históricos, culturais, psicológicos, concretizados em um corpo. Ou seja, ele é produto de uma série de arranjos evolutivos e contextuais, mediado pela subjetividade individual e social do sujeito. Isso quer dizer que, o ser humano é como o é hoje, não por uma simples casualidade atemporal, mas ele é produto de todo um processo histórico.

Todavia, ao falar de “produto de um processo histórico”, devemos situar melhor que tipo de história é esta e, basicamente, podemos citar quais são:

1.       História da Espécie
2.       História do Indivíduo
3.       História da Cultura (ou social)

Por sua vez, estes três aspectos históricos que devem ser considerados ao pensar no desenvolvimento humano: Alguns teóricos, infelizmente, cometeram o deslize de pensar o desenvolvimento humano do ser moderno, já pronto, inserido em uma cultura como se a mesma não tivesse também uma gênese ou houvesse sido modificada. O fato é que, o ser humano de hoje, já sofreu várias “mutações” sociais, culturais, individuais ao redor de milhares de anos.

O ser humano evoluiu fisicamente, desde que deixou de ser um australopithecus, andando curvado pelas savanas africanas há cerca de 3 milhões de anos, ao corpo atual de homo sapiens sapiens. O ser humano também evoluiu culturalmente desde que aprendeu a escrever na Mesopotâmia antiga, até a construção das espaçonaves modernas. E o ser humano tem a sua história individual, desde quando nasce até o período de sua morte. Esta compreensão destes três aspectos históricos do ser humano é importante para entender o seu comportamento atual.

E é nesta compreensão que podemos olhar para o nosso objeto de estudo: A vontade de viajar. Existem pessoas que, viajam por trabalho, outros por estudos, outros por lazer, ou pelo motivo que seja. O fato é que, existem diversas motivações que podem levar à um mesmo comportamento. Mas o que nos referimos neste texto é o fato de que, parece existir no ser humano uma vontade muito grande de sair de suas “quatro paredes” para conhecer o mundo. Há casos “extremos” desta vontade, de pessoas que abriram mão de toda a estabilidade econômica e social para viver rodando o mundo, como peregrinos, e isso não é considerado nenhum tipo de doença ou transtorno. Mas dentro de tantas opções de lazer que o mundo contemporâneo pode oferecer, ou de realizações pessoais, porque parece que ainda existem pessoas que só se realizam rodando o mundo?

Olhando pelo aspecto histórico do ser humano, podemos nos lembrar da época em que o mesmo era um nômade cujas viagens eram aspectos essenciais para a sua sobrevivência. Este, antes de dominar a agricultura, era um ser coletor e caçador, e necessitava mover-se para sobreviver. Essa dinâmica parece ter sido essencial para o desenvolvimento do ser humano e digo isto pelo fato de que, o desenvolvimento psíquico nada mais é do que uma constante movimentação de forças com o objetivo de promover a sobrevivência do ser humano. Ou seja, o homem é, segundo a Teoria Evolucionista, o mais adaptado de todos os seres (pelo menos até o momento).

Esta vontade de viajar talvez tenha sido um dos elementos que, depois que o ser humano aprendeu a fixar-se em determinado territórios, deixando o nomadismo, melhor se incorporou ao psiquismo, no nível simbólico, como um mecanismo que expresse a luta pela sobrevivência, pois quanto mais conhecimento este tiver sobre os espaços possíveis, melhor adaptação terá.

Esta ideia é tão interessante que pode ser comprovada inclusive pelo fato de que, viajar nos dias atuais significa muito mais do que ter um tempo para lazer, mas ter um tempo e um espaço para assimilação de novas culturas e, estas por si mesmas, dão ao homem maior arcabouço de ferramentas para que este tenha mais sucesso em suas empreitadas: Pessoas com maior experiência em viagens para o exterior parecem ter maior facilidade em aprender novos idiomas, ter melhores possibilidades para conseguir melhores vagas de emprego ou coisas do tipo. Não que isso seja por um passe mágico, mas pelo simples fato de que, quanto mais você conhecer, maior a probabilidade de ter mais “cultura”.

Então, essa vontade louca de viajar, aparentemente inexplicável em alguns casos mais extremos, pode ser sim, uma reminiscência de um longínquo passado.

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Imagem: Extraída do Google Imagens

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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e pela Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede Goiana de Psicologia.

Sobre a Rede Goiana de Psicologia

A Rede Goiana de Psicologia é uma organização estadual de coolaboração acadêmica e profissional, criada no ano de 2014 com o objetivo de fortalecer a nossa a psicologia enquanto ciência e profissão através de uma série de projetos. Quer saber mais sobre nós? Clique no link "sobre nós" no menu principal.

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