Esta semana um vídeo rodou pelo
Facebook mostrando policiais militares do Estado de Goiás, durante uma
abordagem a um indivíduo, realizando uma sessão de exorcismo. Como de costume o
Facebook se dividiu entre pessoas contra a prática, alegando a laicidade do
Estado, e outras que se colocaram a favor, aprovando a atitude dos policiais
como uma demonstração de fé.
O que faz tal vídeo dividir
opiniões: Em primeiro lugar, a questão religiosa sempre foi um assunto polêmico
em um mundo de cada vez menos tolerância, seja por parte dos religiosos ou dos
não religiosos. Em segundo lugar, ao assistir este vídeo, ele representa
diferentes tipos de sentido, para diferentes tipos de pessoas: Os religiosos
terão a tendência da sua consciência a avaliarem o vídeo pelo lado de seu viés
psicológico, da maneira como foram e são treinados para eprcebê-lo, como uma
prova de fé. Os não religiosos, ou pessoas que comungam de religiões
concorrentes, tem a tendência de vê-lo como uma afronta aos princípios da
laicidade do Estado. Mas são somente estas duas posições possíveis? Não!
Existem uma série de outras, como de pessoas religiosas, da mesma linha de
crença dos policiais, que desaprovarão o vídeo. O que passa é que tudo depende
de como se olha para o mesmo, e a história de vida do intérprete é que mediará
a sua percepção em relação ao tema.
Mas o fato de policiais
militares, em horário de serviço praticarem um ritual de exorcismo está certo
ou errado? Antes de me debruçar sobre esta pergunta, posto o vídeo para
conferência:
O fato é que o Estado é Laico, e
assim deve ser para que as liberdades fundamentais sejam respeitadas, inclusive
o direito de culto. Estado laico não quer dizer que seja ateu, ou repressor de
qualquer crença religiosa, mas um Estado que está oficialmente separado dos
interesses religiosos e que não deve, sob hipótese alguma, privilegiar nenhum
tipo de crença sobre outra. Não se trata de uma batalha filosófica entre
ateísmo ou qualquer tipo de crença, mas em deixar clara a posição de que, todos
tem o direito de serem livres para acreditarem ou desacreditarem no que
quiserem, desde que isso não interfira no direito do próximo.
Um Estado Laico representa uma
postura oficial do Estado sobre temas de ordem e relevância social, e isto quer
dizer que devem existir determinados procedimentos padrões que resguardem as
liberdades civis contra qualquer tipo de ameaça de intolerância, dominação ou
interferência religiosa. Ninguém é obrigado a esconder ou será reprimido pela
manutenção de sua fé em um Estado Laico, muito menos será obrigado a abdicar de
nada do que crê, mas tampouco deverá fazer uso de sua fé como meio de imposição ou ação coercitiva à ninguém sob e para qualquer circunstância.
O que se passa é que, como vimos
o vídeo, e como a PM Goiás se manifestou, o que passou-se no episódio dos
policiais exorcistas, vai totalmente contra os regulamentos e contra os padrões
da corporação e não representam o modo operatório da mesma. Isso representa uma
grande confusão pelo seguinte fato: Dizer que um Estado é laico, não quer dizer
que automaticamente os seus agentes o sejam! O problema é que, a religião deve
ser uma coisa da esfera exterior ao Estado e que, por não saber fazer a
mediação entre público e privado, muitas vezes ocorrem certas questões como
esta.
Em se tratando de psicologia
podemos entender isso desta forma: O pensamento brasileiro é bastante heterogêneo
e, infelizmente mal educado – os locais se confundem entre público e privado e
algumas vezes falta certo grau de assertividade nos comportamentos cidadãos.
Esta heterogeneidade não é típica de parcela A ou B da população brasileira em
específico, mas é típica de uma população que ainda é funcionalmente analfabeta
para diversos temas políticos e sociais.
Esta confusão é típica, por
exemplo, em consultórios psicológicos, onde profissionais por vezes, não sabem
fazer a demarcação entre a sua crença religiosa e a sua atuação profissional, o
que causa uma série de infrações éticas sérias. Não se tratam de leis que sejam
repressoras à crença de ninguém, mas o simples fato de separar territórios: O
território da “evangelização” é diferente do território da promoção dos
direitos e liberdades civis. Não que um interfira no outro diretamente, mas
isso deve ser feito em seus devidos espaços.
Nosso papel enquanto psicólogos é
tentar ajudar na demarcação destas diferenças: Ninguém deve ser obrigado a ter
a sua fé suprimida, mas de contra partida, ninguém é obrigado a ter uma fé
imposta. A resposta para estas problemáticas continua sendo o diálogo, mas este
para quem consegue manter um mínimo de contato ou disposição para o mesmo,
afinal de contas, para ambos os lados, ninguém gosta ou está disposto a
conversar com uma “porta”.
Por isso senhores, a psicologia
tem um papel importante neste processo: Construir pontes onde há muros de
intolerância, e ser uma luz de razão, onde a intolerância for a expressão
pontiaguda das trevas humanas.
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Imagem: Extraída do Facebook
Vídeo: Extraído do Youtube
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