Chata pra caramba! Foi assim que
ficou essa polêmica para algumas pessoas no Facebook. Outros ainda estão
descobrindo do que se trata. Alguns, como a minha avó, por exemplo, nem sabem
ainda do ocorrido e pouco importa isso para ela. Mas o fato é que uma foto de
um vestido, portadora de uma das mais perfeitas ilusões de ótica já vistas na
rede nos últimos tempos, despertou a curiosidade de muita gente.
Muitos psiquiatras, neurologistas
e neuropsicólogos já falaram sobre o caso, falando sobre o que ocorre com o
fenômeno: O fato é que os olhos não são os responsáveis por decifrar nenhum
tipo de informação, eles são apenas responsáveis por captá-las e enviá-las para
a área Occipital do cérebro, que é a responsável pela organização e interpretação
dos estímulos da visão. Mas não vamos por este lado... nosso foco é a
psicologia clínica!
Outra coisa interessante desta
imagem é que ela foi capaz de mostrar para as pessoas que, coisas tidas como
tão exatas ou certeiras, são tão relativas como as julgadas “subjetivas”. E não
é de hoje que o tema das cores pode ser relativizado: Daltônicos por exemplo
possuem uma percepção de cores diferentes da maioria das pessoas por uma
simples alteração biológica.
Ora, vamos traçar alguns paralelos:
Nossas sensações e percepções possuem intrínseca relação com o nosso biológico,
mas só existem quando este aparato está em contato com a estimulação oferecida
pelo meio ambiente, e o fato é que o mesmo estímulo (como a foto de um vestido)
pode gerar diferentes tipos de reações. Tal fato também se dá com as emoções:
Possuem um substrato endocrinológico, são formuladas no sistema límbico
cerebral, são sentidas em determinados momentos em partes do corpo, mas ocorrem
por via de estimulação ambiental.
Esse paralelo é importante para
que cheguemos ao ponto central deste texto: Assim como pessoas diferentes vendo
o mesmo vestido tiveram percepções totalmente diferentes, assim pessoas que
passam pelas mesmas situações podem ter emoções totalmente diferentes. Este
conceito é chave na psicologia clínica: Ninguém reage ao mesmo estímulo da
mesma maneira. Ora, isso que parece ser bastante óbvio para um estudante de
psicologia, deveras vezes não o é em uma situação de terapia de casais ou
famílias, por exemplo, ou mesmo em uma situação onde um paciente com o
narcisismo (aqui faço o empréstimo da categoria psicanalítica) não bem
resolvido entende que as pessoas devem sentir-se iguais a ela.
A questão é que, o vestido chato
do Facebook é mais interessante do que parece, porque exemplifica um princípio
básico da psicologia clínica, tornando-o mais acessível inclusive como forma de
alegoria para os pacientes que ainda não chegaram a compreensão de que cada
sentimento, pensamento ou percepção são qualitativamente únicos no universo.
E a psicologia, assim como a
vida, sempre nos surpreende com estas coisas bobas, ao ponto de fazer com que
um simples vestido, possa servir de exemplo para a compreensão de um princípio
elementar da vida social que pode ser aplicado na clínica, para qualquer leigo
ver, ou perceber. Voi-là! Mais uma ferramenta que pode ser aplicada no
consultório: Amanhã mesmo, se tiver um casal para atender, com problemas para
entender que cada um percebe/sente os mesmos eventos de maneira diferente,
talvez compense imprimir tal foto para fazê-los pensar sobre o tema. Não é fantástica
a nossa psicologia?!
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Foto: via G1.com
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás
(Brasil), com formação sanduíche e estágio em terapia sistêmico relacional de
casais e famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui
aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación
Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás
(Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede Goiana
de Psicologia.
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