Acredito que uma das melhores
elaborações da psicanálise tenha sido no que se refere aos mecanismos de defesa
do Ego. Tais mecanismos são modos de operação psíquica que o Ego
utiliza/constrói para defender-se de perigos reais ou fictícios. Tem a função
de proteger o ego contra elementos como a ansiedade e o desprazer, por exemplo,
e são normais a todos os seres humanos, podendo ser utilizados também para
defender de forma patológica o narcisismo do sujeito.
Ana Freud (1946/2006), que
escreveu uma obra prima sobre o tema, teoriza que tais mecanismos existem pelo “medo”
do ego de regredir ao estado inicial de fusão com o ID, na hipótese da falha do
Superego na tarefa de reprimir os impulsos.
Mas o objetivo deste texto não é
discorrer academicamente sobre o tema, senão fornecer um breve resumo sobre
quais são tais mecanismos de defesa:
Repressão: Movimento que o Ego realiza para rebaixar conteúdos
dolorosos (sejam ideias, afetos ou desejos) da consciência para o nível
inconsciente;
Negação: Consiste na recusa da aceitação da realidade incômoda ao
Ego;
Deslocamento: Consiste na transferência de um impulso para outro
alvo considerado menos ameaçador;
Racionalização: É um processo pelo qual a pessoa elabora desculpas
ou razões lógicas para tentar justificar comportamentos, pensamentos ou
sentimentos inaceitáveis;
Compensação: Mecanismo de defesa utilizado para encobrir uma
fraqueza através da atribuição de ênfase à outra característica mais desejada
ou aceita;
Formação reativa: É um mecanismo que tende a inverter o impulso
indesejado, substituindo-o pelo seu oposto. Exemplo: A pessoa “prega” a
moralidade extremamente puritana, mas é totalmente entregue às perversões
sexuais;
Projeção: Talvez este seja o mais famoso mecanismo de defesa, que é
o responsável por atribuir aos outros conteúdos psíquicos que são da própria
pessoa a outrem;
Isolamento: Consiste em separar um pensamento, recordação ou afeto
de outros associados, em determinado evento/fato, de modo a minar ou fazer com
que nenhuma reação emocional ocorra;
Anulação: Busca cancelar ou desfazer uma ação/sentimento indesejado
de forma “simbólica” através de outra;
Introjeção: É o mecanismo responsável por integrar elementos de
outro indivíduo a estrutura do Ego;
Regressão: É o mecanismo responsável pro fazer o ego retornar a um
estágio anterior de desenvolvimento;
Fixação: Ocorre quando uma pessoa, em seu desenvolvimento, não progride
de maneira normal, parando parcialmente em uma fase do desenvolvimento;
Sublimação: É o mecanismo responsável por redirecionar a energia de
um impulso para outra atividade socialmente mais aceitável ou desejável;
Supressão: É o bloqueio consciente e voluntário de sentimentos e
pensamentos desagradáveis;
Identificação: É o mecanismo responsável por aumentar o valor do
ego através da aquisição de características de um sujeito referência (admirado).
Enfim, podem existir outros
mecanismos de defesa do Ego, pois como já foi tratado no texto, sé apenas um
breve resumo, com objetivo de apenas nomear e informar sobre a existência do
mesmo. Aos interessados existem literaturas que podem aprofundar sobre o tema:
Freud (1946/2006), Freud (1923/1996) e Hall e Lindzey (1971).
Lembrando também que tal conteúdo
faz parte de uma série de construtos teóricos que se fazem sentido quando estão
integrados dentro do corpo teórico da psicanálise e que, descontextualizados
não refletem o pensamento original dos autores. Ter uma visão global do
assunto, por mais que não seja especializada, é um fator que nos ajuda a olhar
para tal conteúdo sem a aquisição de preconceitos ou visões distorcidas.
Referências
Freud, A (2006). O Ego e os
mecanismos de defesa. Porto Alegre: Artmed.
Freud, S. (1996). O Ego e o Id.
Obras Completas de Sigmund Freud, Vol. XIX: O Ego, o Id e outros trabalhos (J.
Salomão, Trad.). p. 164-167. Rio de Janeiro: Imago.
Hall, C. S., & Lindzey, G.
(1971). Teorias da personalidade (L. Bretones, Trad.). São Paulo: Herder.
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Imagem: Extraída do Google
Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil), com formação sanduíche e estágio em terapia sistêmico
relacional de casais e famílias pela Universidad Católica del Norte (Chile).
Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e
Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de
Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede
Goiana de Psicologia.
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