segunda-feira, 9 de março de 2015

Afinal de contas, existe mesmo “Regressão” na Psicologia?




Há poucos dias vi em vários grupos do Facebook um convite para um curso que dizia “TVP e Regressão”, e tal coisa me deixou particularmente com um sentido de alerta diante de uma situação que se apresenta como uma grande confusão entre psicologia e religião: Para quem não sabe “TVP” quer dizer “Terapia de Vidas Passadas” e tem como objetivo fazer o paciente relembrar de supostas vidas passadas através de processos como hipnose, por exemplo.

Para quem vive acusando psicólogos evangélicos ou católicos (maior porcentagem de psicólogos religiosos) de confundirem a psicologia com suas religiões dentro dos seus consultórios, ainda não despertou que tal prática não é exclusiva de segmento religioso A ou B, mas de toda e qualquer pessoa que, agindo apologeticamente, ainda não aprendeu a separar as suas convicções religiosas pessoais do procedimento científico.

Pois bem, o que a tal da “TVP” faz é tentar aliar a doutrina religiosa da reencarnação com a psicologia clínica, e para isso utilizam-se da hipnose. Pois bem, o fato é que a “mente” humana é bastante enganosa e pode criar várias artimanhas para observadores mais desavisados: A própria psicanálise, mãe da psicologia clínica, reconhece que, para chegar ao âmago da psique humana, existem muitas defesas que precisam ser derrubadas, e muitas delas existem de fato para enganar ou tapear o psicoterapeuta – Dentre as várias possibilidades que poderiam ser levantadas estão a dissimulação, o histrionismo, a falsa memória, a sugestionabilidade e etc.

Porém, não vamos nos ater à essas possibilidades, ou à questão filosófica da confusão entre psicologia e religião, mas à uma questão conceitual que recai sobre o termo “Regressão”: Se entendermos “Regressão” como o acesso da psique humana à experiências de “vidas passadas”, temos um grande problema, pelo fato de que simplesmente pela ciência, NÃO EXISTEM VIDAS PASSADAS, e este é o problema, misturar uma doutrina que possui sua gênese na religião com uma ciência.

Todavia, se entendermos a “Regressão” como um movimento que o ego faz de retorno à pontos em que houveram fixações frutos de traumas, em um momento passado do desenvolvimento do indivíduo, aí sim temos um conceito científico. É comum que existam em momentos de grande catarse em situações terapêuticas ou de crise um movimento de retorno ao ponto da vida em que houve um grande trauma: Por exemplo, um adulto que sofreu um trauma em um momento da sua infância (na fase oral, por exemplo), pode manifestar o fenômeno da regressão se em um momento de forte emoção começar a chupar o dedo como uma criança durante a sessão terapêutica.

Aqui há que se evidenciar que um mesmo termo pode ter duas concepções totalmente diferentes, e que assim, pode causar para leitores mais desavisados, grande confusão ou mesmo preconceito para uma categoria científica que foi cunhada dentro de uma metodologia científica. Esse fato evidencia que ainda há em nosso caminho, muita luta para separar o joio do trigo, e desfazer confusões que adentram na psicologia, sob a suposta máscara de ser uma ciência.

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Imagem: Extraída do Google Imagens

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Sobre o autor:

Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de Goiás. Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e preside a Rede Goiana de Psicologia.

Sobre a Rede Goiana de Psicologia

A Rede Goiana de Psicologia é uma organização estadual de coolaboração acadêmica e profissional, criada no ano de 2014 com o objetivo de fortalecer a nossa a psicologia enquanto ciência e profissão através de uma série de projetos. Quer saber mais sobre nós? Clique no link "sobre nós" no menu principal.

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