Há poucos dias vi em vários
grupos do Facebook um convite para um curso que dizia “TVP e Regressão”, e tal
coisa me deixou particularmente com um sentido de alerta diante de uma situação
que se apresenta como uma grande confusão entre psicologia e religião: Para
quem não sabe “TVP” quer dizer “Terapia de Vidas Passadas” e tem como objetivo fazer
o paciente relembrar de supostas vidas passadas através de processos como
hipnose, por exemplo.
Para quem vive acusando
psicólogos evangélicos ou católicos (maior porcentagem de psicólogos
religiosos) de confundirem a psicologia com suas religiões dentro dos seus consultórios,
ainda não despertou que tal prática não é exclusiva de segmento religioso A ou
B, mas de toda e qualquer pessoa que, agindo apologeticamente, ainda não aprendeu
a separar as suas convicções religiosas pessoais do procedimento científico.
Pois bem, o que a tal da “TVP”
faz é tentar aliar a doutrina religiosa da reencarnação com a psicologia
clínica, e para isso utilizam-se da hipnose. Pois bem, o fato é que a “mente”
humana é bastante enganosa e pode criar várias artimanhas para observadores
mais desavisados: A própria psicanálise, mãe da psicologia clínica, reconhece
que, para chegar ao âmago da psique humana, existem muitas defesas que precisam
ser derrubadas, e muitas delas existem de fato para enganar ou tapear o
psicoterapeuta – Dentre as várias possibilidades que poderiam ser levantadas
estão a dissimulação, o histrionismo, a falsa memória, a sugestionabilidade e
etc.
Porém, não vamos nos ater à essas
possibilidades, ou à questão filosófica da confusão entre psicologia e
religião, mas à uma questão conceitual que recai sobre o termo “Regressão”: Se
entendermos “Regressão” como o acesso da psique humana à experiências de “vidas
passadas”, temos um grande problema, pelo fato de que simplesmente pela ciência,
NÃO EXISTEM VIDAS PASSADAS, e este é o problema, misturar uma doutrina que
possui sua gênese na religião com uma ciência.
Todavia, se entendermos a “Regressão”
como um movimento que o ego faz de retorno à pontos em que houveram fixações
frutos de traumas, em um momento passado do desenvolvimento do indivíduo, aí
sim temos um conceito científico. É comum que existam em momentos de grande
catarse em situações terapêuticas ou de crise um movimento de retorno ao ponto
da vida em que houve um grande trauma: Por exemplo, um adulto que sofreu um
trauma em um momento da sua infância (na fase oral, por exemplo), pode manifestar
o fenômeno da regressão se em um momento de forte emoção começar a chupar o
dedo como uma criança durante a sessão terapêutica.
Aqui há que se evidenciar que um
mesmo termo pode ter duas concepções totalmente diferentes, e que assim, pode
causar para leitores mais desavisados, grande confusão ou mesmo preconceito
para uma categoria científica que foi cunhada dentro de uma metodologia
científica. Esse fato evidencia que ainda há em nosso caminho, muita luta para
separar o joio do trigo, e desfazer confusões que adentram na psicologia, sob a
suposta máscara de ser uma ciência.
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade
Federal de Goiás. Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e preside a Rede
Goiana de Psicologia.
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