Não, este texto não é uma
pregação! Ou tentativa de aproximar a qualquer religião com a psicologia. Mas é
um daqueles textos que tentam mostrar que existem princípios gerais no universo
que podem ser acessados por seres humanos em qualquer cultura, e para isto, me
referirei à um texto que, escrito há cerca de 2 mil anos atrás em uma cultura
judaica, transcrito para uma cultura grega (a primeira tradução bíblica foi
para o grego na “Septuaginta”), posteriormente para a cultura latina (com a
versão “latina”) e séculos depois para o português, para ser trazida para nossa
cultura ocidental lusófona: Um trecho do livro de Tiago, no Novo Testamento.
“Pedis e não recebeis, porque pedis mal...” Tiago 4:3 parte “a”
O texto é bem simples, mas
exemplifica uma situação cotidiana para quem trabalha na área de Recursos
Humanos e tem a tarefa Recrutar e Selecionar novos trabalhadores: A maioria das
pessoas não sabe fazer currículos! Ora, bolas... como assim?
O que era para ser uma tarefa
muito simples, na verdade se converte em uma difícil missão: Como apresentar as
suas habilidades e características em um pedaço de papel para uma pessoa que
não está te vendo? E pior, como fazer tal apresentação ser efetiva? Essas sim,
são boas e difíceis questões.
Apesar e não haver uma fórmula
única a ser seguida pelas pessoas, pois cada currículo deve expressar de
maneira objetiva a individualidade (que em si quer dizer, sujeitos que são
singulares, únicos e por isso possuem características que os diferenciam dos demais)
de cada pessoa, podemos e devemos nos ater a princípios gerais para a fabricação
de um bom currícul, afinal de contas, o currículo nada mais é do que um “pedido
formal de emprego”.
Neste sentido, cada currículo
revele parte da inteligência do candidato: De que maneira é formatado, se é
objetivo, se possui boa gramática, se é bem estruturado, enfim, são questões
que podem ser importantes na tarefa de determinar quem fica ou não com uma
vaga.
Por isso, resta nos tratar de
tais objetivos para que os candidatos aprendam a pedir um emprego de uma
maneira mais eficiente:
Objetividade: Este é um dos principais fatores que deve ser
considerados na escrita de um currículo, afinal de contas, se você não consegue
se comunicar eficientemente bem em uma ou duas páginas, dificilmente o fará em
cinco, seis ou dez. Examinadores não querem saber de toda a sua vida acadêmica
ou profissional em um currículo, mas querem saber se a pessoa cumpre os
pré-requisitos básicos para uma vaga ou se possuem diferenciais em relação aos
outros candidatos. Por isso, devemos desmistiticar a ideia de que prolixidade
tem a ver com qualidade – Eu mesmo já vi excelentes currículos de uma página
somente, e péssimos currículos com 4 páginas. O que deve ser feito neste
sentido é tentar controlar a vontade de falar (no caso de digitar), pois não é
a quantidade de palavras que vai te fazer surpreender, mas a capacidade de
síntese que você tem sobre as suas habilidades. Uma dica para isto? Reveja a
formatação do seu currículo! Não é necessário fazer currículo com espaçamento
de 3 centímetros entre cada linha, e nem 5 centímetros de margens; Mas atenção!
Nunca coloque letras muito pequenas, (recomenda-se tamanho 12 Arial, Times New
Roman ou Calibri), afinal você não deve forçar ninguém a ler letras miúdas (ainda
mais se o seu examinador foi míope, você corre este risco).
Formalidade: Não tente “forçar a barra” sendo extremamente informal
em um currículo, afinal espaços psicológicos devem ser respeitados. Por isso,
sempre é de bom tom usar uma linguagem formal, sem regionalismos, neologismos
ou coloquialismos. Humor é bom para vida cotidiana, mas deve ser feito na
medida em que há espaço e respaldo para isso, na medida em que há liberdade
oferecida mutuamente na relação para tal, caso contrário pode ter o efeito de
soar “invasivo”. Por isso entenda que um currículo é um documento, e para tanto
deve respeitar os limites formais.
Especificidade: Um currículo devem atender aos interesses de uma
vaga determinada e não o contrário. Isso quer dizer que, se uma vaga está
anunciada para “Assistente Financeiro” o currículo deve ter habilidade e
características destacadas para aquela vaga. Digo isto porque, é muito comum
receber currículos generalistas, que são os do tipo “atirei como uma
metralhadora para o alto e vou dar sorte se matar algum pássaro”, e este são
facilmente identificados e percebidos como feitos por pessoas que não possuem
nenhum tipo de habilidade específica ou que estão “perdidos” no mercado de
trabalho. Currículos que no objetivo possuem “busco oportunidade na área de
vendas, secretariado, administrativo, técnico de enfermagem, operador de
máquinas pesadas, gandula de futebol” tem menos possibilidade de se destacarem
diante de outros do tipo “Busco oportunidade na área de Administração
Financerira”. O importante também é que as pessoas busquem formação para as
vagas em questão, especializando os currículos para as vagas, pois algumas EXIGIRÃO experiência específica: Você
contrataria alguém para operar uma pessoa do coração se ele fosse um advogado e
não um médico? Então porque uma pessoa insiste em acreditar que “qualquer um
pode ser vendedor” ou etc? Sempre é possível mudar de trabalho e aprender, ou
mesmo ter várias habilidades, mas isso não quer dizer que aperfeiçoar-se e especializar-se
seja menos importante.
Enfim, podem haver mais “princípios”
importantes na confecção de um currículo, mas este três são de especial
importância e, se compreendidos e executados podem representar a diferença
entre “pedir da maneira adequada” e “pedir da maneira errada”.
É isso que podemos aprender com
um versículo bíblico: A diferença entre aprender a pedir bem, ou fazê-lo de
maneira infrutífera. Boa sorte na sua busca!
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil) com graduação sanduíche na Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade
Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente
da Rede Goiana de Psicologia.
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