Essa semana estive envolvido em
um debate nas redes sociais virtuais, sobre um dos muitos temas sobre os quais
escrevo, até o momento em que me deparei com a seguinte acepção: “As
instituições são maiores que os indivíduos”. E me pus a pensar sobre o assunto.
A primeira coisa que me veio à
cabeça foi o fato de que o indivíduo, enquanto aparato biológico onde se
manifesta o sujeito, precede à qualquer instituição! Isso me sobreveio por
lembrar a máxima sartreana de que “a existência precede a essência”, esclarecendo
o tema já neste ponto. Então, afirmar que as instituições são maiores que o
sujeito, neste sentido, só é compreensível se entendermos as instituições como
aglomerados de pessoas, e ainda assim, somente se tal acepção ocorrer em
relação a temas quantitativos.
O fato de que o “Ser” vem ao
mundo desprovido de qualquer cultura, e que esta é assimilada e coconstruída
por este no seu desenvolvimento histórico, ao passo que podemos dizer que o
sujeito constrói as instituições e dá sentido a elas.
Abbagnano (2007) definiu o termo “Instituição”
como “um conjunto de normas que regulam a ação social” (p. 571) e neste
sentido, esta é uma concepção dinâmica que representa muito mais do que um
prédio com CNPJ. As instituições são criações humanas para regularem a
convivência social na medida em que os grupos sentirem necessidade de
regularem-se. Quanto mais as instituições crescerem e se fortalecerem, mais
elas necessitam de códigos, aparatos coercitivos e meios para lidar com suas
dissonâncias, de modo a combater as contradições que vão surgindo em sua
complexização.
Assim como o ser humano possui
seus mecanismos de defesa do Ego, as instituições como reflexo dos sujeitos que
as constroem, elegem elementos para darem conta de defenderem-nas de suas
contradições, e assim cada uma faz conforme as ferramentas que possui: O Estado
por exemplo, como uma grande instituição, possui o poder de polícia para vigiar
e punir aqueles que vão contra as suas regras, assim como possui uma série de
outros elementos para regular as suas ações. O fato é que, no atual estado de
pós-modernidade em que nos encontramos, parece ser impossível vivermos sem instituições,
mas também há outro fato importante – o de que podemos eleger algumas das quais
podemos viver e também recusar algumas das quais temos vivido.
Podemos oferecer uma lista extensa
de instituições sociais, desde as mais primárias como a família, às mais complexas
como o Estado, a Justiça, a Instituições Religiosas, as Empresas e etc. A
algumas dessas podemos eleger, a outras, pela conjuntura sociopolítica em que
vivemos, não!
Mas o objetivo deste texto não é
de forma alguma apregoar a anarquia, na medida em que as instituições são
preciosas para economizar o tempo do ser humano, ao invés de deixá-lo “reinventando
rodas”, mas evidenciar que as mesmas, além de possuir contradições em sua
essência, que muitas vezes as tornam insustentáveis (necessitando de, por isto,
constantes reformas), são formadas por sujeitos e estes são a essência das
mesmas. Neste sentido, quanto mais perversos forem os sujeitos que estiverem
presentes nas mesmas, mais perversas tendem a serem as instituições, e
vice-versa.
E para terminar o texto, o que
deve ser colocado é que, sujeito e instituição coexistem no mesmo espaço: o
indivíduo! Não existe esta separação de instituição x indivíduo, na medida em
que a vida social, o modo de pensar, o modelo de comportamento, a forma de
experimentar as emoções, todas elas são mediadas e coconstruídas pelas
instituições. É a boa e velha dialética, o indivíduo concreto é produto e
produtor da sua realidade, todavia, sendo autônomo diante de tais mecanismos,
ao ponto de criar, recriar-se e destruir-se diante de tais meios.
Referências
Abbagnano, N. (2007). Dicionário de filosofia (A. Bosi,
Trad.). São Paulo: Martins Fontes.
Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela Universidade
Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC e presidente
da Rede Goiana de Psicologia.
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