Muito grande é a quantidade de
estudantes que, em um período da sua graduação em psicologia, se esforçam (e às
vezes quase se desesperam) em busca de um estágio, seja pela simples vontade de
começar a ter mais conhecimento prático a respeito de algum tema, ou mesmo seja
por conta da necessidade financeira que uma bolsa pode representar para a sua
vida pessoal ou formação.
Todavia, o que acontece é que o “mercado
de Estágios” tem se tornado cada dia mais concorrido, como fruto da expansão da
rede de universidades de psicologia no Brasil e da crise do mercado de trabalho
que tem diminuído os pontos de trabalho e, consequentemente de estágio.
Mesmo sem conseguir acompanhar o
crescimento do quantitativo de estudantes, a psicologia parece ser um campo em
franca no que se refere à vagas de estágio, e isso se deve ao fato de que cada
dia mais as empresas estão se preocupando com a qualificação de seu setor de
recursos humanos.
Em se tratando de estágio, o que temos
observado é que a maior quantidade de vagas disponíveis é na área de Psicologia
Organizacional: Estas vagas de estágio ocupam quase em sua totalidade os
anúncios das redes sociais e sites de divulgação de vaga, a despeito de vagas
onde a prática do estágio, se não é inexistente, é quase nula, que é o caso da psicologia
clínica por exemplo.
Mas como o nosso objetivo não é
tratar sobre onde estão as vagas de estágio, mas sim como fazer para
consegui-las, segue um pequeno passo a passo, que pode esclarecer bastante uma
série de dúvidas na tarefa de se diferenciar no momento da conquista da vaga:
Em primeiro lugar, saiba fazer um bom currículo! Parece óbvio este ponto,
mas de fato este não é. Já recebi vários currículos de candidatos a vagas de
estágio em psicologia que não possuíam o mínimo senso estético, eram totalmente
desorganizados e desconectados, além de possuir grandes lacunas no que se refere
ao quesito “informação”. O princípio é meio óbvio: Na área de RH por exemplo, como
um estagiário de psicologia vai saber analisar um currículo se ao menos este
soube fazer um?! Não vou oferecer neste texto um tutorial sobre como fazê-lo,
já que já tenho outros textos neste sentido e a internet também está recheada
deles.
O segundo ponto é que, geralmente, o estudante não sabe evidenciar a
sua experiência e deve aprender a fazer isso: Essa é a parte em que muitos
estudantes entram em pânico, pois se esbarram na questão do “eu nunca trabalhei”
e de cara concluem um “logo, não tenho experiência”. Que equívoco! Há que se
frisar bem que experiência não é necessariamente laboral! Você adquire
experiência com tudo na vida, principalmente na universidade: Ligas acadêmicas,
atléticas, centros acadêmicos, eventos, formações, etc. E para aprender a evidenciar
tal experiência em um currículo, você deve prestar bastante atenção ao terceiro
ponto.
Foque na área desejada: Muitos estudantes querem um estágio em
Psicologia Organizacional, por exemplo, mas nunca fizeram um curso de formação
na área, nunca participaram de um seminário sobre o tema, se contentando
somente com a formação oferecida na sala de aula. Eu tenho uma novidade para
você que só assiste aula sobre o tema: Você provavelmente deve ter outros 40
colegas que fazem o mesmo! Mas o fato é que, se um dos seus colegas, tiver uma
formação com seminários, cursos e palestras no tema, ele com certeza sairá na
frente! Este é um dos fatores que pode representar um grande salto no currículo
de quem diz “eu não tenho experiência”. Desmistifique isso! O estágio é um
momento para aprendizagem, onde os empregadores geralmente preferem pessoas que
venham sem os “vícios” de outras empresas para aprender a dinâmica de sua
própria organização.
Seja polivalente: Este é outro fator muito importante para quem
busca um estágio, pois entre o currículo de um candidato que possui várias
formações diferentes, mas que comungem com o objetivo da vaga, sairá na frente.
Por exemplo, ao buscar um estágio de Psicologia Organizacional num RH de uma
empresa, o candidato que tiver alguma formação em Departamento Pessoal ou em
Direito Trabalhista (por mínimas que seja, ou apenas noções sobre os temas)
podem sair na frente, simplesmente pelo fato de que tais conhecimentos
colaboram para as funções. Não se trata de saber de tudo, mas de ter
conhecimento multidisciplinar, o que é importante para desafiar os velhos
modelos mecanicistas do século XX, onde a pessoa que batia o martelo era
diferente da pessoa que apertava a porca.
Cuide de suas emoções, afinal de contas, mesmo sendo um estagiário,
nenhuma empresa gosta de trabalhar com pessoas emocionalmente desequilibradas,
e isto se torna evidente nas redes sociais, onde recrutadores e candidatos convivem:
Jovens reclamões, histriônicos, não parcimoniosos, exibicionistas e com outros
excessos, são facilmente reconhecidos e evitados. Feliz ou infelizmente o
mercado busca pessoas otimistas, resilientes e persistentes, e se você não
souber nada sobre isso, sairá atrás.
Seja inteligente, e isso não quer dizer necessariamente somente a
inteligência cognitiva, mas também emocional, social e cultural: Afinal de
contas, é preciso saber transitar com qualidade entre os campos do saber
técnico, mas também é preciso saber tratar bem todos os funcionários da
empresa, portando-se conforme a situação pede, e também é preciso saber que nem
sempre somente uma entrevista irá ajudá-lo, mas que ter um bom network também
poderá ser essencial na sua vida. Por isso, seja inteligente em todos os
sentidos, domine as teorias, tenha um bom circulo de amigos, tenha boas
experiências e referências e com certeza, conseguir um estágio não será difícil
para você.
Faça parte de uma Rede, sendo que é nesta que você poderá ter
acesso a informações, e isto é extremamente importante para o desenvolvimento
profissional. O século XXI é dominado por redes: Redes computacionais, redes
sociais (digitais e comunitárias), redes empresariais, redes científicas, etc.
Aprendi isso com a experiência de fazer parte de redes de cientistas e de redes
profissionais: Isso faz a diferença! E pensando nisto, foi para isso que a Rede
Goiana de Psicologia foi criada, para ajudar cada dia mais os psicólogos e
estudantes a terem melhores condições de acesso à informações e oportunidades.
Enfim, este conjunto de
informações pode ajudar um candidato que se sente um pouco perdido nos
processos seletivos para estágio, e quem sabe ser um diferencial na vida e na
formação de nossa comunidade. Boa sorte!
Imagem: Extraída do Google Imagens
Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil), com graduação sanduíche pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e pela Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela
Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC
e presidente da Rede Goiana de Psicologia.
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