Aprendemos com os livros de
história da psicologia que a nossa ciência foi fundada no ano de 1879, com a
criação do Laboratório de Psicologia Experimental de Wundt, na cidade de
Leipzig na Alemanha. Todavia, ao nos questionarmos sobre tal acontecimento
histórico, podemos perceber que muito antes disso, já haviam inúmeros escritos
sistemáticos e em formato de esboço que tratavam do tema da psicologia: Platão,
no século V a.C., já havia escrito um tratado de três livros sobre a “Alma”,
sendo este um dos primeiros pensadores do mundo a tratar sobre o assunto de
maneira mais aprofundada. E não somente os gregos trataram sobre isto: Vemos o
próprio Apóstolo Paulo de Tarso, de tradição judaica, esboçar algum fragmento
sobre a alma humana (cf. I Ts 5:23); assim como Tomás de Aquino, na Idade Média
fornecer alguns trabalhos sobre uma prévia do que hoje conheceríamos como
psicologia.
Vidal (Ferreira, 2006)
desenvolveu um trabalho chamado “The Eighteen Century as “Century of Psychology””
onde nos mostra que no século XVIII já havia um conhecimento muito próximo do
que hoje vemos por psicologia, mas que àquela época, este conhecimento era mais
de caráter taxonômico (classificatório) do que compreensivo ou explicativo.Este
conjunto de conhecimentos já tratava de temas como a relação entre o sujeito
cognoscente e o objeto cognoscível, e sobre uma tentativa de classificar de
maneira ordenada as faculdades do espírito humano (àquela época, espírito era
um dos nomes que eram dados à razão humana).
Mas com todo este conhecimento de
psicologia da época, porque esta só foi tida como inaugurada enquanto ciência
no século XIX? Algumas coisas podem
responder à isto: Em primeiro lugar, a compreensão que temos enquanto ciência
hoje, é fruto da divisão pedagógica entre ciências naturais e ciências humanas,
na medida em que as segundas se estabeleceram com maior força a partir da
ascensão da filosofia positivista e do nascimento da sociologia com August
Comte (1798-1857). Foi somente a partir desse marco em que se pode pensar a
possibilidade de uma ciência humana (que até poucas dezenas de anos anteriores
não era diferenciada da filosofia), onde se enquadraria a psicologia. Mesmo
assim, o modelo de ciências humanas daquela época era muito ligado aos
conceitos das ciências humanas, e a psicologia teve que adotar o positivismo de
Comte para satisfazer o “lobby” dos cientistas positivistas.
A partir daí, algumas condições
históricas se deram para que o nascimento da psicologia moderna se desse ligado
ao trabalho de Wilhelm Wundt (1832-1920): O surgimento do laboratório de
psicologia experimental de Leipzig (que atenderia aos desejos da classe de
cientistas positivistas da época), a criação da primeira revista periódica de
psicologia e a criação do primeiro curso de psicologia (no ano de 1862)
(Araújo, 2009; Schultz & Schultz, 2009).
Neste sentido, o que se pode
entender é que a concepção do nascimento da psicologia passou por todo um
processo político, ideológico e epistemológico, no sentido de que, mesmo
havendo já conhecimentos anteriores, que já eram sintetizados em inúmeros
tratados sobre o tema, era necessário que se dessem algumas condições no nível
político e filosófico para que a psicologia se afirmasse enquanto campo
independente do conhecimento.
Referências
Araújo, S. F. (2009). Wilhelm
Wundt e a formação do primeiro centro internacional de formação de psicólogos. Temas em Psicologia, 17(1), 09-14.
Ferreira, A. A. L. (2009). O múltiplo
surgimento da psicologia. Em, A. A. L. Ferreira, & A. M. Jacó-Vilela
(Orgs.), História da psicologia: rumos e
percursos (pp. 13-46). Rio de Janeiro: Editora Nau.
Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2009). História da psicologia moderna (9ª Ed.).
São Paulo: Thomsom.
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil) com graduação sanduíche e formação em Terapia
Sistêmico-Relacional de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e pela Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela
Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC
e presidente da Rede Goiana de Psicologia.
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