Eu queria saber de onde foi que
tiraram a ideia fixa de que psicólogos advinham a “mente” das pessoas... Aliás,
para alguns psicólogos, que é o caso dos behavioristas, “mente” nem existe. Mas,
debates sobre a natureza da psicologia à parte, todos nós encaramos uma vez ou
outra na vida esta “piadinha”, ou então a ideia de que temos “poderes” para
decifrar as pessoas.
Não! Por favor, se você é uma
destas pessoas, pare! Mas porque falo isto? Simplesmente pelo fato de que o que
fazemos não é mágica, mas sim ciência! Isto pelo fato de que baseamos nossa
atuação através de um conjunto de métodos filosófica e experimentalmente válidos.
Isso quer dizer que nossa atuação é guiada por instrumentos que foram
previamente observados, experimentados e validados, de modo que tenhamos meios
lógicos para fazermos inferências a respeito do comportamento humano e sobre
seus desdobramentos.
Quando um psicólogo, em um
consultório, ou em uma situação qualquer de trabalho, faz afirmações ou inferências a respeito
de sentimentos, formas de pensar ou de agir, é porque existem certos padrões de
comportamentos que são relativamente comuns à determinados tipos de situações.
E estes padrões são exaustivamente observados para que possamos ter uma certa
base de “previsibilidade”. Sim, a psicologia trabalha com certa
previsibilidade, afinal de contas, se não o fizesse, seria uma ciência
meramente descritiva, como o é a história, mas busca o status de uma ciência
explicativa, na medida em que tenta, entendendo determinados padrões de
comportamento, auxiliar no caminho do desenvolvimento humano.
Todavia, mesmo observando
exaustivamente as pessoas em seus comportamentos, há que se deixar bem claro
que, se a psicologia não se parece com a história, tampouco se parece com a
matemática, na medida em que, quando falamos de previsibilidade, esta está
sempre sujeita ao crivo da probabilidade, ou seja, é provável que um
comportamento ocorra se determinadas condições ambientais existirem, todavia
isso não é 100% garantido. Mas se não podemos garantir com 100% de certeza
sobre qualquer previsão, porque a psicologia existe? Simples! Ela existe porque
não se propõe a ser uma “leitura de mãos modernas”, nem uma ciência da bola de
cristal, mas uma ciência que se coloca em um lugar crítico, que questiona a si
mesma, seus métodos, e os sujeitos sobre os quais atua.
Neste sentido, a psicologia é
muito mais do que uma ciência que busca prever comportamentos, mas sim
colocá-los em constante análise, na tentativa de ser uma crítica da realidade e
da humanidade, tentando construir uma sociedade mais saudável e sempre disposta
a desenvolver seu potencial. Assim, a psicologia é muito mais uma ciência do
desenvolvimento humano, do que uma mera tentativa de prever e catalogar
comportamentos, por mais que em alguns momentos seja possível prever alguns
pelo simples fortalecimento da observação e levantamento de probabilidades.
É neste sentido que temos que
advertir sempre que por mais que seja fácil prever padrões de comportamento em
alguns momentos, esse nem de longe é o objetivo de nossa ciência, o objetivo de
nossa ciência é buscar uma sociedade cada vez mais saudável e crítica a
respeito de si mesma.
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil) com graduação sanduíche e formação em Terapia
Sistêmico-Relacional de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e pela Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela
Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC
e presidente da Rede Goiana de Psicologia.
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