Sim, é claro! Afinal de contas, a
religião é um conjunto de crenças que motivam comportamentos, e tanto as
crenças, como os comportamentos são objeto de estudo da psicologia. É neste
sentido que existe a psicologia da religião, que é um campo de estudo da
psicologia que tem como objetivo a investigação dos diferentes processos e
fenômenos religiosos.
A psicologia da religião não está
preocupada em estudar a validade da religião A ou B, ou em saber se uma é mais
verdadeira do que a outra, ou mesmo em saber da existência de qualquer ser
superior, muito menos de extrair juízos de valores sobre determinados sistemas
de ritos, mas está interessada em saber como se dão os processos psicológicos
que perpassam estes sistemas de crenças/comportamento.
Ao contrário do que algumas
pessoas podem pensar, despercebidamente ou preconceituosamente, a psicologia da
religião não é uma tentativa de misturar a fé com a ciência, ou de tentar usar
ferramentas e técnicas psicológicas para converter pessoas para qualquer
instituição religiosa, mas está preocupada na investigação de temas referentes
ao comportamento religioso de grupos e indivíduos: A fé, a conversão, as
experiências transcendentais, os discursos religiosos, a relação simbólica da
religião e do comportamento cotidiano, as crendices, os movimentos religiosos
de massa, etc, são exemplos de objetos de estudo para a psicologia da religião.
Neste sentido, a psicologia da
religião é dotada de uma epistemologia, de uma ontologia e de uma metodologia
como qualquer outro campo da psicologia: assim como a psicologia hospitalar, a
psicologia clínica, a psicologia organizacional, etc.
Mas para que este tipo de conhecimento
é importante? Eu poderia responder isso de várias formas, mas tentarei ser
sucinto neste ponto: este tipo de conhecimento é importante para explicar e
tentar ajudar na intervenção de barbáries como as guerras motivadas por temas
religiosos, para tentar facilitar a comunicação entre terapeuta e cliente no
ambiente clínico, para compreender e explicar a maneira como ocorrem os
discursos religiosos institucionalizados e como estes podem ser benéficos ou
maléficos na vida de indivíduos ou grupos, dentre inúmeras outras
possibilidades.
E por último, cabe ao psicólogo
que se interessar por esta área, ajudar a quebrar muitos tabus, dentre os quais
aquele que diz que “religião não se discute”, pois, afinal de contas, somos
cientistas e, para nós, não há nada que não se discuta.
Imagem: Extraída do Google Imagens
Sobre o autor
Murillo Rodrigues dos Santos, é psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC
Goiás (Brasil) com graduação sanduíche e formação em Terapia
Sistêmico-Relacional de Casais e Famílias pela Universidad Católica del Norte
(Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown University (Estados
Unidos) e pela Fundación Botín (Espanha). Mestrando em Psicologia pela
Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é pesquisador pela CAPES/MEC
e presidente da Rede Goiana de Psicologia.
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