Muitos empresários podem pensar
que ter um psicólogo em seu quadro de funcionários é um luxo, ou uma
futilidade, ao terem o seguinte pensamento: “Para que eu vou pagar para alguém
ficar “escutando” as pessoas?! Ora, este tipo de pensamento está calcado na
mais pura e simples desinformação!
Ainda que “somente escutar” fosse
uma tarefa fácil, coisa que realmente não é (muitas pessoas que não possuem
treinamento em psicologia se surpreenderia com o fato de que absolutamente NÃO
SABEM ESCUTAR), o psicólogo não faz somente isso! Aliás, infelizmente ainda
existe no imaginário coletivo a visão do psicólogo clínico, aos moldes médicos
ou das terapias do divã (isso não é uma crítica à Psicanálise), sendo que a
psicologia enquanto ciência e profissão é muito mais do que isto: a modernidade
já nos demonstrou o valor de um profissional da psicologia em várias áreas de
atuação no mercado – nos RH’s, nas Escolas, nos Hospitais, nos governos, etc.
Com o interesse de tentar remover
um pouco dos preconceitos a respeito da atuação do psicólogo, vou tentar
ilustrar através de 3 áreas de atuação da psicologia, diferentes da clínica,
onde o psicólogo pode ser um profissional bastante útil e peça chave no desenvolvimento
de sua empresa. Mas antes disso cabe reforçar uma questão: o psicólogo possui
várias ferramentas que, não sendo necessariamente a escuta, podem ser
utilizadas para desenvolvimento das organizações onde ele participa, dentre as
quais, a entrevista, os questionários multimodais, as complementações de frase,
os experimentos, as observações diretas e participantes, e as intervenções
pontuais, dentre outras – Isso quer dizer que o psicólogo não é somente a pessoa
que fica repetindo a frase “me fale mais sobre isso”!
O psicólogo nas Empresas
Grande parte das empresas hoje já
percebem a importância do trabalho do psicólogo em seu meio, para o
desenvolvimento de diversas atividades, que variam desde o recrutamento e seleção,
ao treinamento e desenvolvimento, dentre outras. Primeiramente o psicólogo
chegou às empresas para suprir a necessidade “fordista” de colocar o “homem
certo no lugar certo”, com o objetivo capitalista de extrair ao máximo o
potencial de produção dos empregados. Todavia, o psicólogo possui também uma
série de orientações éticas que o colocam na posição de defender o bem estar do
indivíduo, e não a sua simples exploração de força de trabalho, e passou do
simples interesse classificatório de habilidades de funcionários, para a
disposição de criar um ambiente favorável à saúde ocupacional e psicológica do
trabalhador. Com base nisto, passou a criar, coordenar e administrar programas
de saúde no trabalho, programas de valorização do trabalhador, programas de
treinamento e desenvolvimento de habilidades, programas de atenção e escuta.
Ora, para os desavisados isso pode até não parecer muita coisa, mas para
empresários que enfrentavam problemas de relacionamento em suas organizações,
problemas com motivação ou mesmo com a alta rotatividade dos funcionários (que
por sinal eleva bastante os custos de um departamento pessoal), tal passo foi
fundamental para promover um ambiente de trabalho melhor, tanto para o
empresário e em sua ótica de lucratividade, quanto para o funcionário em sua
posição de trabalhador.
Assim o psicólogo passou a pensar
o setor de RH (Recursos Humanos) de forma estratégica, fomentando a visão de
que ter um funcionário saudável psicologicamente seria bom para qualquer
empresa, sob qualquer ponto de vista. E assim, o profissional da psicologia
passou a ser um elemento fundamental na árdua tarefa de humanizar as relações
de trabalho e produção.
O psicólogo nas Escolas
Outro campo em que o profissional
da psicologia também se inseriu com relativa velocidade foram as escolas: Sim,
estas que foram paulatinamente deixando de ser simples locais de transmissão de
informação, passaram a ter cada dia maior participação dos psicólogos no
desenvolvimento de políticas pedagógicas, na missão de formar cidadãos. Com
base nisto, as escolas passaram a se beneficiar com o trabalho de um
profissional que se colocou à disposição de professores e pedagogos para
esclarecer e assessorar programas para o desenvolvimento da aprendizagem, nos
diferentes níveis de idades, construindo ferramentas e teorias que dessem conta
das novas questões que emergiam com a tecnologia: A teoria das inteligências
múltiplas, as ferramentas para pensar, o trabalho com crianças com altas
habilidades, dentre outras, foram aportes preciosos da psicologia para a
educação, no sentido de criar novas compreensões e meios para o processo de ensino/aprendizagem.
Outra tarefa que também ficou
evidente a importância do psicólogo nas escolas é no amparo e enfrentamento de
situações de Bullying, de violência, drogadição, dentre outras, que se
colocaram como desafios para as práticas educativas traidicionais. Neste
sentido, os diretores das instituições passaram a valorar os profissionais da
psicologia como agentes importantes no auxílio do desenvolvimento dos
estudantes, das equipes profissionais, em propostas de promoção de saúde no
corpo escolar, dentre outros.
O psicólogo nos hospitais
Outro campo em que o psicólogo
passou a integrar foi o dos hospitais, onde passaram a compor as equipes
multiprofissionais, ou mesmo a realizar atendimentos psicoterapêuticos na
proposta clássica da clínica. Este profissional passou a atuar na função de
interconsulta, na integração de equipes, no atendimento direto do paciente, na
continência das angústias em unidades de emergência, no suporte à família em
situação de crise e luto, enfim, em várias atividades que prezassem o lado
emocional e comportamental dos pacientes, equipe e agregados no processo de
hospitalização.
O psicólogo foi, particularmente,
importante neste processo pelo fato de que a dinâmica emergencial, do “não
parar nunca”, da objetividade biomédica, da tentativa que os profissionais da
saúde tentam fazer para separar o pessoal do profissional (para não sofrerem
com as dores alheias), tornaram o hospital e sua rotina cada vez mais
insustentável e desumana: quem não conhece as reclamações de pacientes que se
sentiram mal tratados diante do trabalho de algum profissional ou da dinâmica
de alguma unidade hospitalar?! Neste sentido, os psicólogos se inseriram para
tentar compreender e trabalhar esta dinâmica de forma a construir um ambiente
que também busque a manutenção e a promoção da saúde, tanto no nível social e
psicológico, quanto os demais profissionais o fazem no campo biomédico.
Concluindo
É neste sentido que podemos dizer
que o valor de um psicólogo vai muito além das aparências de seu trabalho
imediato, mas percebem-se na mudança cotidiana das dinâmicas que se estabelecem
nos diferentes lugares possíveis onde se institucionalizam as relações humanas.
Ou seja, o trabalho do psicólogo vai muito além da “simples escuta” que muitos
gestores ou diretores de instituições pensam, mas na execução de um trabalho
onde poucos teriam paciência de se aventurar: No campo das dificultosas
relações humanas, nos diferentes lugares onde os indivíduos interagem, e nas
suas mais diversas interfaces.
Então, senhoras e senhores, seria
bom que este texto fosse compartilhado, na tentativa de que os gestores, ou
mesmo a população em geral possam ter ciência de que o trabalho de um psicólogo
é bem mais complexo, do que a simplicidade da maioria dos olhos não treinados podem
ver.
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Imagem: Extraída do Google Imagens
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Murillo
Rodrigues dos Santos, é
psicólogo (CRP 09/9447) pela PUC Goiás (Brasil) com graduação sanduíche e
formação em Terapia Sistêmico-Relacional de Casais e Famílias pela Universidad
Católica del Norte (Chile). Possui aperfeiçoamento profissional pela Brown
University (Estados Unidos) e pela Fundación Botín (Espanha). Mestrando em
Psicologia pela Universidade Federal de Goiás (Brasil). Atualmente é
pesquisador pela CAPES/MEC e presidente da Rede Goiana de Psicologia.
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