sábado, 2 de maio de 2015

Pais como co-terapeutas: a contribuição da psicologia comportamental no processo de desenvolvimento dos filhos




É cada vez mais frequente receber em meu consultório pais desesperados pelos comportamentos dos seus filhos. “Toma, dê um jeito nele” nos entregam na esperança de que possamos oferecer a forma perfeita para os males infantis. A verdade, é que infelizmente, ou felizmente, não existe manual para criar pais e filhos perfeitos. O que nós temos em mãos, são pesquisas de mais de 50 anos, com resultados comprovados, de que sim, um pouco de engenharia comportamental oferece respostas claras e precisas sobre como a criança aprende a se comportar e o que é mais importante para o desenvolvimento infantil nas interações entre filhos e pais.

O que queremos para os nossos filhos?

Responsabilidade, autoestima elevada, assertividade, autocontrole, autonomia, boas habilidades sociais, que sejam amados, confiantes, empáticos, felizes... Mas talvez, a verdadeira pergunta seja qual pedaço da torta de nossas vidas estamos dispostos a abrir mão para desenvolver, passo a passo, estes comportamentos em nossos filhos. Nada por ser feito a não ser pouco a pouco.

A ideia de treinar pais surgiu pensando no fato de que existem escolas e treinamentos para diversas áreas da vida, menos uma das tarefas mais difíceis e para a qual menos somos preparados: Ser pais! Os pais e mães são a maior fonte de modelos para os filhos, e nada melhor do que contar com o apoio dos mesmos como CO-TERAPEUTAS no processo de psicoterapia infantil.

A dificuldade que os pais apresentam, ao chegar à clínica, de descrever os comportamentos adequados do filho é explicada pelo simples fato de que o que está inadequado, geralmente, grita aos olhos, incomoda, e assim, tende a chamar mais atenção. Dessa forma, os pais começam a direcionar sua atenção (sendo está, o que os filhos mais desejam) apenas para os comportamentos inadequados, reforçando a probabilidade de que o filho se comporte novamente assim, quando estiver disposto a conseguir a atenção dos pais. Diante de tantos comportamentos inadequados, só resta à punição.

Palmada virou lugar comum, e muitos pais dizem “eu também levei uns tapas e estou aqui vivo e bem”.

As pessoas dizem que um tapinha não faz mal nenhum e que é bem diferente do espancamento ou mesmo de uma surra. Porém, é importante frisar que a palmada e o espancamento têm o mesmo princípio: Usar a força e o poder para intimidar e punir uma pessoa!

Se você bate em seu filho, qual a primeira coisa que está ensinando? Que a violência é capaz de resolver problemas, que bater é uma forma correta de agir e de expressar sua raiva.

Do ponto de vista ético, a punição física é condenável, uma vez que existem diversas sanções para pessoas que agridem o seu semelhante. Por que, então na relação familiar, permite-se, tolera-se e até incentiva-se que os pais batam em seus filhos?

Como alternativa a punição corporal, a psicoterapia comportamental oferece uma série de técnicas que podem auxiliar os pais de forma efetiva a implantação e manutenção de comportamentos adequados no repertório de seus filhos. Se há regras adequadas, consistentes e bem explicadas, com consequências caso não sejam cumpridas, fica cada vez menos provável a escolha por emissão de comportamentos inadequados.

Muitos pais talvez já tenham utilizado algumas técnicas na criação dos seus filhos e relatam frustação devido à falta de sucesso em aplica-las. Um questionamento mais profundo nos revela que a palavra chave no sucesso da aplicação de técnicas se resume em um aspecto: Consistência. Toda e qualquer ação em prol do desenvolvimento dos filhos precisa ser consistente, a criança precisa saber que o que é colocado hoje, será cobrado amanhã, e depois, e assim sabe que pode se comportar da forma desejada, pois seus pais não mudarão de ideia. A consistência gera confiança, pois se cria uma rotina onde a criança sabe o que vai acontecer, e por isso, tem liberdade para se comportar.

Parece contraditório falar de regras e liberdade, mas ao estabelecer um quadro fixo de regras e tarefas, dentro deste quadro sobra um enorme espaço onde a criança pode e deve se comportar com toda a sua individualidade, sendo assim, reforçada pelos pais.

Quando estabelecemos uma relação e raízes pautadas no respeito, em regras, amor e envolvimento, oferecer asas para que nossos filhos cresçam com autonomia é um caminho natural e gratificante. Os filhos são como pandorgas, só temos certeza que nosso trabalho está completo quando visualizamos, com um misto de tristeza e alegria, ela solta e livre plainando no ar.

Referências

Clark, L. (2008). SOS Ajuda para pais (editora cognitiva)


Pinheiro, Haase & Del Prette (2002) – Pais como co-terapeutas – treinamento em habilidades sociais como recurso adicional.

Weber, L. (2012). Eduque com carinho – para pais e filhos (Juruá)

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Imagem: Extraída do Google Imagens

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Sobre a autora

Laura Gomes de Oliveira, é psicóloga (CRP 09/9137) pela PUC Goiás (Brasil), com estágio em clínica Analítico Comportamental. Aluna especial do mestrado em psicologia da Universidade Federal de Goias (Brasil), possui experiência em psicologia organizacional e, atualmente trabalha como psicóloga clínica comportamental na Clínica Espaço Absolut.

Sobre a Rede Goiana de Psicologia

A Rede Goiana de Psicologia é uma organização estadual de coolaboração acadêmica e profissional, criada no ano de 2014 com o objetivo de fortalecer a nossa a psicologia enquanto ciência e profissão através de uma série de projetos. Quer saber mais sobre nós? Clique no link "sobre nós" no menu principal.

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